Pedro Sena-Lino
“Assim se deixa uma casa”
http://www.canaldelivros.com/data/Novidades/640.htm
26-01-2004
Desde o seu primeiro livro, [...] Arquitectura do Silêncio, que a poesia de Ruy Ventura se constrói numa tensão obsessional pelas coordenadas de espaço e tempo, pelos seus limites e capacidades. A inscrição, através do poema, visa simultaneamente reconciliar o visível e o invisível, o tempo anterior, o presente e o passado, e criar no lugar-tempo do poema um espaço fixo de imutabilidade, uma estrutura do eu em sintonia e coerência.
Donde que neste seu quarto livro, Assim se deixa uma casa, esta temática se manifeste em tonalidade diferente da do primeiro livro, ou mesmo de Sete Capítulos do Mundo, recentemente editado pela Black Sun. A Casa, baluarte identitário e veículo do espaço absoluto do poema, é uma entidade simultaneamente materna e protectora; abandona-lá significa um corte, com qualquer coisa de injusto:
“a porta desapareceu – com a noite
a imagem ficou a meio da casa
e a luz
sobe
para que possamos ver
o seu rosto (...)
no caminho de regresso
a calçada estabelece
um labirinto
um azulejo
e dentro dele
um rosto
a nossa própria
imagem” (pg. 35)
Porém, o valor espiritual da casa é desenvolvido com larga perspectiva pela pena de Ruy Ventura:
“esta noite
abre-se
sobre a estrada
a porta abre-se ao norte e ao sul
demasiado longe
o quarto
onde uma cidade
dentro do rio
(na jarra?)
sobe até meio do espelho
ignorando os livros
divide-se como se fosse uma rua (...)” (pg. 53)
Mais um aspecto da inscrição do natural (outro tema caro a esta poesia), ou seja, da identidade da natureza face ao tempo, que Ruy Ventura tem levado a cabo, com assinalável coerência, num processo de escrita que cada vez mais se condensa numa sucessão de imagens estranhantes, perturbadoras, misteriosas.
“Assim se deixa uma casa”
http://www.canaldelivros.com/data/Novidades/640.htm
26-01-2004
Desde o seu primeiro livro, [...] Arquitectura do Silêncio, que a poesia de Ruy Ventura se constrói numa tensão obsessional pelas coordenadas de espaço e tempo, pelos seus limites e capacidades. A inscrição, através do poema, visa simultaneamente reconciliar o visível e o invisível, o tempo anterior, o presente e o passado, e criar no lugar-tempo do poema um espaço fixo de imutabilidade, uma estrutura do eu em sintonia e coerência.
Donde que neste seu quarto livro, Assim se deixa uma casa, esta temática se manifeste em tonalidade diferente da do primeiro livro, ou mesmo de Sete Capítulos do Mundo, recentemente editado pela Black Sun. A Casa, baluarte identitário e veículo do espaço absoluto do poema, é uma entidade simultaneamente materna e protectora; abandona-lá significa um corte, com qualquer coisa de injusto:
“a porta desapareceu – com a noite
a imagem ficou a meio da casa
e a luz
sobe
para que possamos ver
o seu rosto (...)
no caminho de regresso
a calçada estabelece
um labirinto
um azulejo
e dentro dele
um rosto
a nossa própria
imagem” (pg. 35)
Porém, o valor espiritual da casa é desenvolvido com larga perspectiva pela pena de Ruy Ventura:
“esta noite
abre-se
sobre a estrada
a porta abre-se ao norte e ao sul
demasiado longe
o quarto
onde uma cidade
dentro do rio
(na jarra?)
sobe até meio do espelho
ignorando os livros
divide-se como se fosse uma rua (...)” (pg. 53)
Mais um aspecto da inscrição do natural (outro tema caro a esta poesia), ou seja, da identidade da natureza face ao tempo, que Ruy Ventura tem levado a cabo, com assinalável coerência, num processo de escrita que cada vez mais se condensa numa sucessão de imagens estranhantes, perturbadoras, misteriosas.
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