COM ARTE E COM ALMA, EM AZEITÃO



O 4º Serão “Com Arte e com Alma”, promovido pela Comissão Diocesana de Arte Sacra de Setúbal, decorreu na passada terça-feira, dia 6, na Igreja de São Lourenço, em Azeitão, enquadrado por uma moldura humana de mais de sessenta participantes, oriundos da Paróquia de São Lourenço e redondezas e também de outros lugares da Diocese de Setúbal.

Sendo o objectivo da Comissão Diocesana de Arte Sacra, relativamente a este projecto “Com Arte e com Alma”, oferecer às comunidades paroquiais e locais e aos diocesanos, em geral, a oportunidade de adquirirem um mais profundo conhecimento do seu rico património de Arte Sacra, através da colaboração de especialistas na matéria, para um melhor usufruto cultual e para a defesa desse mesmo património, esta foi uma noite em que foi dado o devido destaque ao património sacro de Azeitão.
O Serão “Com Arte e com Alma” de Azeitão desdobrou-se em duas partes.
Na primeira parte, o investigador Ruy Ventura apresentou uma conferência intitulada “Igreja de São Lourenço de Azeitão: mais de 600 anos de história”, pela qual traçou o historial deste edifício. Um percurso iniciado com a sua construção no século XIV (segundo aponta a documentação existente), portanto, ainda na Idade Média, passando por uma ampliação e reorientação do edifício por volta do século XV (para se adequar às normas canónicas), pela introdução de vários elementos litúrgicos e de arte sacra (a pia baptismal, o campanário, retábulos, azulejos revestindo os frontais de altar, pinturas, entre outros elementos) e pela construção de edifícios adjacentes no século XVI, pela instalação do retábulo, do trono em talha, dos azulejos na capela-mor e das quatro pinturas em tela sobre a vida de São Lourenço no século XVII e, já no século XVIII, pela colocação dos retábulos laterais de azulejos, de dois altares laterais e de mais imagens na igreja, bem como pela construção do baptistério. No século XX (entre 1947 e 1959) a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais promoveu grandes obras na igreja, nomeadamente a retirada dos dois altares laterais da nave, dando-lhe uma configuração muito próxima da actual.
Num segundo momento da noite, o foco recaiu sobre uma escultura em cerâmica policromada e vidrada representando a Virgem com o Menino, oriunda do convento dominicano de Azeitão, e que está hoje colocada na parede da nave da Igreja de São Lourenço, para o culto dos fiéis. Esta obra de arte sacra foi apresentada pela Arquitecta Isabel Macedo de Sousa, que a tem investigado, apontando para novas abordagens em torno da iconografia da obra e do seu local de produção.
Numa comunicação intitulada  “A Virgen de la Antigua e o Convento Dominicano de Azeitão”, a investigadora começou por abordar a história detalhada do local que primeiramente acolheu a escultura cerâmica, o Convento Dominicano de Azeitão, desde o início da sua construção, em 1435, até aos dias de hoje. De seguida, repassou as várias referências documentais à imagem em questão e também se referiu às discussões em torno da sua origem e da sua invocação. As hipóteses que no tempo se aventaram para a origem da obra apontavam a Índia, depois a Itália – a famosa oficina dos Della Robbia – e, mais tarde Portugal.
A Arquitecta Isabel Sousa de Macedo descreveu as características iconográficas da imagem e referiu-se também aos estudos laboratoriais a ela feitos no âmbito do projecto “Robbiana” (projecto já terminado, que cruzou os conhecimentos da História da Arte com análises científicas laboratoriais a peças comprovadamente Della Robbia existentes em Portugal, para estabelecer comparações entre as mesmas), para sustentar a ideia de que a obra de arte em referência não será uma peça Della Robbia, mas de produção espanhola e de que a sua invocação será a da “Virgen de la Antigua“, característica da cidade de Sevilha e, posteriormente, também adoptada em países da América Latina.