O VERDADEIRO POETA
DA ARRÁBIDA É DEUS


Setúbal, 20 de ago 2013 (Ecclesia)

O verdadeiro poeta da Serra da Arrábida “é Deus” considera o professor e escritor Ruy Ventura referindo-se ao local em Setúbal, que inspirou obras portuguesas.

Para o docente “esta serra é por si só um poema” e “os autores que têm escrito sobre ela apenas a têm interpretado e colhido a sacralidade que envolve todo o espaço”, afirma em declarações à Ecclesia, notando que a Serra da Arrábida “não se oferece logo na primeira visita” mas necessita de “constante revisitação”.

Ruy Ventura recorda Frei Agostinho da Cruz e Sebastião da Gama como dois poetas que usaram como inspiração o misticismo da Arrábida: a poesia de Frei Agostinho da Cruz “artisticamente é muito mais construída”, enquanto que a de Sebastião da Gama “é como se fosse um diamante por lapidar.”

O poeta Ruy Ventura não deixa de notar que a poesia de Sebastião da Gama “precisa urgentemente de uma edição completa” revelando a existência de “dezenas de poemas inéditos”.

“A saudade é a síntese entre a esperança e a memória” é a frase declamada por Ruy Ventura para explicar a conotação de “altar dos poetas” que atribui à Serra da Arrábida, tendo em conta essa saudade que é “a memória do passado e a esperança num futuro sempre mais elevado”.

Setúbal, 21 de ago 2013 (Ecclesia)

O professor Ruy Ventura afirma que a obra do Frei Agostinho da Cruz sofreu uma “mudança”, originalmente de uma “produção profana” para se tornar num poeta “profundamente religioso”.
Frei Agostinho “nasceu no dia de Santa Cruz de 1540 e tomou hábito no mesmo dia em 1560, no convento de Santa Cruz de Sintra”, declara Ruy Ventura ao programa Ecclesia, dando conta de que este autor foi “sobretudo um professor da Cruz” professando uma “grande devoção à Cruz de Cristo”.
“É um poeta da meditação”, revela o professor, notando que Frei Agostinho da Cruz “viveu numa época muito conturbada” e muito “semelhante á nossa”.
Ruy Ventura não deixa de apontar que Frei Agostinho abandonou o “mundo material para se ligar ao mundo espiritual”, resultando o seu trabalho “numa poesia de opções”, onde o autor “vê o mundo vão e prefere o mundo espiritual”.
“Serra sagrada” é como Ruy Ventura define a serra da Arrábida, em Setúbal, que serviu de grande inspiração a Frei Agostinho.



http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=96672


COMENTÁRIO DE UM LEITOR:

 Vou pedir ao Ruy Ventura que me permita um comentário de simpatia à sua inspirada frase de que “O verdadeiro poeta da Arrábida é Deus”. Como acontece com Assis, Capri, Corcovado e outros raros espaços do orbe, a Arrábida é um topos especial. Um lugar que é muito mais que um espaço físico. É comum o visitante sentir ali uma coceirinha mística que teria vontade de exprimir da maneira mais própria. Vontade que na maior parte dos casos fica no balbucio ou no silêncio místico de contemplação, na admiração e no espanto. Vontade que termina por se reduzir a uma impressão indizível, ou a um estranhamento íntimo que não encontra na palavra uma sintaxe racional que exprima totalmente a impressão registrada na alma. Poetas de renome como Frei Agostinho da Cruz, António Manuel Couto Viana, Sebastião da Gama e outros cantaram a mística serra. Através da linguagem escrita deixaram impressões, canções, elegias, exclamações, saudades. Mas uma coisa é a retórica estilística com finitos giros oferecidos pela língua literária e comum e outra coisa é a realidade em si da Arrábida e a força íntima que dela se desprende. Neste caso, declarada a limitação da linguística verbal, resta pedir a intervenção da semiótica para que com base em sinais e indícios ela própria construa outro tipo de linguagem que melhor exprima a sensação ou a impressão mística com que a Arrábida nos enche o coração. Dentro desta perspectiva parece ser inteiramente pertinente lembrar e repetir a feliz frase de Ruy Ventura quando diz que “O verdadeiro poeta da Arrábida pe Deus”…Explicando melhor: o espectáculo da natureza e o encantamento da Arrábida é de tal ordem que não há poeta que tenha uma linguagem própria e capaz para exprimir as grandezas transcendentes da Arrábida. Esse espectáculo, convertido em linguagem, mostra que ali só há um poeta com dicção própria: seu Criador, Deus. Quando o franciscano S. Boaventura escreveu o ” Itinerarium mentis in Deum” (Itinerário da mente para Deus), em pleno século XIII, estava nos dizendo que o mundo é não apenas um espelho de Deus mas também um caminho cheio de sinais para o reconhecer como seu Autor. A mesma tese que Ruy Ventura nos está lembrando em bom português, ao exaltar a Arrábida como uma das maiores belezas de Portugal, ao dizer que:”O verdadeiro poeta da Arrábida é Deus.”

João Ferreira

Brasília,10 de setembro de 2013
 http://circuloantoniotelmo.wordpress.com/2013/09/10/ruy-ventura-na-agencia-ecclesia/