Fernando Guimarães




“Ouvir devagar…”

Jornal de Letras, nº. 1048, de 1 a 14 de Dezembro de 2010: 16-17.

[S/ livros de Daniel Faria, Gonçalo Salvado, José Emílio-Nelson e RV.]



[…]

Ruy Ventura publicou um novo livro de poemas, Instrumentos de Sopro. Há nele um sentido que se diria disfórico, o que poemas como este (parcialmente transcrito) revelam de imediato:

não existe / este lugar. sem água / opõe-se à transformação da pedra / guarda veios de uma madeira sem seiva // a serenidade dos passos procura / uma viagem sem destino / longos dedos folheiam / o fumo e algumas ervas sem préstimo – / ferro escorando, em vão, as células / de um corpo sem movimento.

Neste livro faz-se uma opção por uma escrita que se diria cursiva (“leio e releio. Seguro entre as mãos / o corpo e a esperança, a longa oliveira / deitada sobre a fonte”), presa a uma divagação evocadora (“que nome guardariam nesses silos / que hoje apenas resguardam a memória”) ou ligada a uma percepção imaginosamente transposta que procura, como o poeta diz, a “linguagem das formas a interpretação dos lugares”. Lugares vagos, imprecisos, como se se perseguisse uma visão cujos horizontes se vão afastando sempre.

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