Maria Augusta Silva


Chave de ignição”.
Notícias Sábado, nº. 195 (revista do jornal Diário de Notícias, nº. 51315), de 3 de Outubro de 2009: 60 – 61.

Em Chave de Ignição, de Ruy Ventura, há uma viagem poética de “fogo imenso” e de frios ou do “vento e sombra de vento”, circulando “entre duas agonias” porque “(…) a chuva não afasta / a poeira dos olhos / os ramos reverdecem, mas não existe água / que possa vencer / a sonolência da tarde.” O escritor Gonçalo M. Tavares assina a breve nota de abertura, sendo a capa de Nuno de Matos Duarte.
Cada instante dos poemas revela uma invulgar imagética, questionando-nos sobre a transmutação dos elementos da vida e da própria morte. A energia do dizer poético de Ruy Ventura encontramo-la igualmente em obras anteriores, de que destacamos Arquitectura do Silêncio, distinguida com o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (2000), e Assim se Deixa Uma Casa (2003). O “amplo sentido inventivo” da sua escrita foi já sublinhado por ensaístas como Fernando Guimarães.
A casa, o corpo, a terra, o sangue, a água, a árvore, o tempo, a memória, o fogo e a cinza são matérias essenciais na poetização de um autor que pergunta: “Que noite vivo?” e “deixa nas árvores o último grito”. E sente a “pele queimada nas raízes”, porém confiante em que a seiva não se perderá mesmo permanecendo a dor de muitas feridas.
Ruy Ventura chama também para as páginas deste seu trabalho vultos da literatura como José Régio, C. Ronald, Maria Gabriela Llansol e Fiama. No final, visita a palavra de Jesus de Nazaré segundo S. Lucas: “Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!” Neste “epílogo”, o poeta é imenso na elaboração da metáfora, no choque das imagens (ao mesmo tempo cruento e sublime), avançando com a grande sabedoria: “(…) nada existe. tudo coexiste (…)”.

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