GONÇALO M. TAVARES
[prefácio de Chave de ignição, Labirinto, 2009]
“prefiro (…) a ligação do aço ao combustível”
Palavras que apontam para matérias e objectos – combustível, aço, dicionário, motor, chave – são de entre todas as que mais lembram essa energia que o choque físico entre o corpo e as coisas deixa sair. Porque entre o percurso de um ser vivo, o seu itinerário concreto, e os obstáculos do mundo, há, por vezes, avarias: o corpo falha e os obstáculos acertam; tropeçamos, somos derrubados. Porém, entre o choque e a queda, uma energia abandona – por convite do corpo – os objectos. E dos objectos transita para a atmosfera baixa. Daí, essa energia regressa de novo aos objectos – a sua origem – mas regressa já diferente.
O que Ruy Ventura procura é então esse encontro súbito e agressivo entre quem escreve e uma palavra; quebrar, pois, “o vidro que nos separa / do terramoto.”
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