FERNANDO GUIMARÃES




“O leitor encantado da casa” in Jornal de Letras, nº. 1029, de 10 a 23 de Março de 2010: 25-25.
[Recensão sobre livros de Fernando Hilário, Ana Luísa Amaral, Maria Vitalina Leal de Matos e RV.]



[…]

Chave de Ignição é o quarto livro de Ruy Ventura – acrescente-se: editado em Portugal, porque também saíram duas obras suas em Espanha – o qual vem acompanhado por um breve texto introdutório de Gonçalo M. Tavares.

Justamente, Ruy Ventura considera que o seu livro deve ser lido “como uma estrutura fechada”, embora, também de acordo com o seu ponto de vista, apresente uma continuidade com os livros publicados anteriormente. Talvez na presente obra se faça sentir menos a contenção que tanto marcava os poemas de um livro bilingue editado em Espanha e intitulado El lugar, la imagen, para o qual chamei a atenção há tempos nestas crónicas.

Agora, no presente livro, há uma maior expansão verbal, a qual, no entanto, pode tender para imagens que dão ao poema uma grande densidade ou, em contracorrente, para aqueles lugares claustrofóbicos onde “o silêncio revela o silêncio”. Veja-se, por exemplo, esta passagem de um longo poema:



deposito esta cinza nessas mãos.
queimo talvez as linhas, os músculos, a pele.
comungo deste pão e deste vinho.
traslado espinhos rasgando
fronteiras, paredes, sílabas –
a circulação do corpo
nesta alma, neste sopro –

e o infinito voo
nas entranhas
dessa ave
desenhada pelo mar.

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