ao diário espanhol Hoy. Conduzida por Antonio Sáez Delgado.
“A Extremadura tem sabido desenvolver uma estratégia inteligente de diálogo com Portugal” - afirma Ruy Ventura, que gostaria de continuar divulgando o que escreve entre os leitores espanhóis
RUY VENTURA nasceu em 1973 em Portalegre, no Alto Alentejo. Actualmente concilia a escrita com o seu trabalho como professor numa escola de Sesimbra. Publicou vários livros de poesia, o primeiro dos quais recebeu o Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores. Deu à estampa diversos artigos sobre poesia contemporânea, literatura tradicional e toponímia, assim como traduções de vários escritores espanhóis. O seu último livro de poemas foi traduzido e publicado pela Editora Regional da Extremadura: “El lugar, la imagen”.
Que significa para si a Espanha?
Com o andar do tempo, "Espanha" é para mim cada vez mais um sinónimo de "Hispania" ou de "Ibéria" e cada vez menos o nome de uma entidade política. Apesar da diversidade cultural e linguística existente nesta "mão da Europa" (como afirmava Miguel de Unamuno), cujo valor inalienável todos devemos reconhecer e cultivar, penso que só temos a ganhar com o fomento de um diálogo incessante entre nações. "Espanha", para mim, nunca será olhada como o "Outro", mas sempre como a outra face de uma identidade peninsular poliédrica. Os estados nascem e morrem, conforme sopram os ventos políticos, militares ou económicos (e os múltiplos interesses, em tantas ocasiões sinistros, que os impulsionam). As culturas e as línguas submetem-se à lei de Lavoisier: nada se perde ou cria, tudo se transforma.
Que aspectos positivos e negativos recorda do seu contacto com Espanha?
RUY VENTURA nasceu em 1973 em Portalegre, no Alto Alentejo. Actualmente concilia a escrita com o seu trabalho como professor numa escola de Sesimbra. Publicou vários livros de poesia, o primeiro dos quais recebeu o Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores. Deu à estampa diversos artigos sobre poesia contemporânea, literatura tradicional e toponímia, assim como traduções de vários escritores espanhóis. O seu último livro de poemas foi traduzido e publicado pela Editora Regional da Extremadura: “El lugar, la imagen”.
Que significa para si a Espanha?
Com o andar do tempo, "Espanha" é para mim cada vez mais um sinónimo de "Hispania" ou de "Ibéria" e cada vez menos o nome de uma entidade política. Apesar da diversidade cultural e linguística existente nesta "mão da Europa" (como afirmava Miguel de Unamuno), cujo valor inalienável todos devemos reconhecer e cultivar, penso que só temos a ganhar com o fomento de um diálogo incessante entre nações. "Espanha", para mim, nunca será olhada como o "Outro", mas sempre como a outra face de uma identidade peninsular poliédrica. Os estados nascem e morrem, conforme sopram os ventos políticos, militares ou económicos (e os múltiplos interesses, em tantas ocasiões sinistros, que os impulsionam). As culturas e as línguas submetem-se à lei de Lavoisier: nada se perde ou cria, tudo se transforma.
Que aspectos positivos e negativos recorda do seu contacto com Espanha?
Não registo na minha memória qualquer experiência negativa ocorrida dentro das fronteiras de Espanha. Tenho sido sempre bem acolhido, com um carinho que me tem cativado. Se calhar tenho tido sorte... Gente boa e má existe em todo lado. Na minha memória ancestral (sendo eu neto de contrabandistas), guardo em segunda ou terceira mão as histórias de fugas e de prisões feitas pelos “carabineros”... ou o registo de mortes ocorridas durante as guerras de outros séculos, não esquecendo as narrativas da guerra civil, essa luta "entre maus e maus", para citar novamente o autor de "Por Tierras de Portugal y de España"... Mas nada posso guardar, até ao momento, algo que configure realmente uma memória negativa. Como momentos positivos posso lembrar os primeiros encontros com alguns poetas que hoje conto entre os meus amigos e as primeiras visitas a espaços tão marcantes quanto Yuste, o Pórtico da Glória compostelano, o gótico de Guadalupe ou essa "catedral paúlica" de Barcelona, a Sagrada Família.
Na opinião, qual deve ser o papel da Extremadura como região fronteiriça?
A Extremadura tem sabido desenvolver uma estratégia inteligente de diálogo com Portugal. Sem abdicar das suas idiossincrasias, tem sabido crescer abraçando os seus irmãos do outro lado do Guadiana e do Tejo. Será, penso, o melhor elo, no futuro, para o estabelecimento de uma Comunidade de Povos de Línguas Ibéricas, como desejava Agostinho da Silva, cativando ao mesmo tempo o seu governo central e os de alguns países da América Latina.
Quais são os seus principais projectos e reptos futuros na sua relação com Espanha?
Os meus dois livros mais recentes, "Um pouco mais sobre a cidade" e "O lugar, a imagem", foram já publicados em Espanha, em editoras extremenhas. Desejo continuar esta divulgação de quanto escrevo entre os leitores que falam o castelhano. Gostaria, por exemplo, de publicar aí uma antologia pessoal da minha poesia... Para além disto, tenho todo o interesse em continuar a colaborar com a imprensa cultural, como neste momento acontece com a revista "La imagén de Extremadura".
[Entrevista publicada do diário “Hoy”, de 5 de Abril de 2008. O original está disponível em http://www.hoy.es/20080405/sociedad/extremadura-sabido-desarrollar-estrategia-20080405.html ]
[Entrevista publicada do diário “Hoy”, de 5 de Abril de 2008. O original está disponível em http://www.hoy.es/20080405/sociedad/extremadura-sabido-desarrollar-estrategia-20080405.html ]