RUY VENTURA
NO PROGRAMA DE RÁDIO "LA VOZ EN ESPIRAL" (MÉRIDA)
Este martes teníamos una cita con la poesía portuguesa, una cita con uno de los poetas más interesantes del panorama lírico vecino, y es que habíamos quedado con Ruy Ventura para acercaros su verso recitado en primera persona.
Además nos acompañó en el estudio nuestro colaborador Francisco Javier Carmona, que quería estar presente en esta cita con Ruy y con la poesía portuguesa que él tan bien conoce y nos ofrece en cada una de sus colaboraciones. Javier nos esperaba en las inmediaciones de la emisora para charlar un rato antes de la emisión en directo. Tuvimos tiempo de intercambiar impresiones sobre la obra publicada de Ruy, y coincidimos los tres, en que su primer libro "Arquitectura do Silêncio", es un regalo para el lector de poesía, y una flor que cualquier poeta quisiera tener en su jardín de versos.
En la emisora, y después de unas cuantas fotos para el álbum de LVE, nos dejamos llevar por la voz acogedora del portalegrense. Ruy se metió de lleno en nuestras preguntas y no escatimó su atención en la selección de poemas con sus correspondientes lecturas. Empezó recordando a Ángel Campos Pámpano con un poema de Jola que él tradujo al portugués; el próximo viernes 25 de noviembre se cumple el tercer año sin la presencia de Ángel y así quisimos recordarle, con versos suyos y en portugués, seguro que le hubiera gustado escuchar a Ruy.
Os invitamos a que escuchéis el audio, pues Ruy nos ha regalado unas lecturas de poemas cargados de emoción y de imágenes, pero también nos ayudó a conocerle mejor, a entender su poesía y su empeño por lograr dejar un legado tangible de lo intangible que se apaga con el abandono de las aldeas alentejanas. Ruy es un poeta comprometido con su tierra y con su tiempo, es un rayano que fluye en el contrabando de las palabras para abrazar las culturas que enriquecen esta península. En medio de la entrevista, quisimos sorprenderle invitando a su amigo José María Cumbreño a nuestra charla, y creemos que así fue.
Terminamos con un tema del cantautor extremeño Miguel Ángel Gómez Naharro, que versionó un poema de Ruy Ventura titulado "Escrevo-te cartas".
(O programa pode ser ouvido aqui: http://www.ivoox.com/ruy-ventura-eladio-orta_md_906178_1.mp3 ou aqui: http://lavozenespiral.blogspot.com/2011/11/ruy-ventura-eladio-orta.html)
ARQUITECTURA DO SILÊNCIO
O meu primeiro livro, Arquitectura do Silêncio, editado em 2000 pela Difel (e galardoado por Fiama Hasse Pais Brandão, Urbano Tavares Rodrigues e Fernando Pinto do Amaral com o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores) foi sujeito a um processo de reescrita que agora se apresenta (à espera de edição em papel). Está disponível aqui ou aqui.
presença
a luz desenha no espaço
duas colunas de sombra.
a memória coloca no olhar
duas colunas de fogo
que as asas devolveram
à poeira das origens.
sangue e voo
sobrepõem-se à imagem
obstruindo a presença da luz
na tinta e no coração.
traços e cores
a luz desenha no espaço
duas colunas de sombra.
a memória coloca no olhar
duas colunas de fogo
que as asas devolveram
à poeira das origens.
sangue e voo
sobrepõem-se à imagem
obstruindo a presença da luz
na tinta e no coração.
traços e cores
dispensam, no entanto, a linha
do horizonte. na ascensão da tela
restituem, sem matéria,
a presença do edifício –
sem vidro, sem aço
com carne, sangue e memória
na inscrição do mundo.
[WTC, de Jorge Martins]
(in Instrumentos de Sopro, edições Sempre-em-Pé, 2010)
Jorge Martins, sem título, 1975/76, acrílico, 90x126. |
CONTRAMINA
1.
sangra-se a criatura.
introduzida entre os músculos
a faca (ou lança) encontra imagens em dispersão
objectos com bolor ou com ferrugem
mãos cheias de sangue
folhas e livros com nódoas de tinta e de gordura.
para que viva e permaneça
é necessário que o golpe rasgado entre os ossos
lance nos olhos do criador
alguns decilitros de água
salgada, nascida nas vísceras de um corpo
em que algumas manchas na pele
revelam úlceras no estômago ou no duodeno.
apenas água – sal onde todos os sedimentos
(do tempo e do espaço?), todas as secreções
(da existência?) se dissolveram
para produzirem uma luz branca
que, tendo atravessado o prisma
das palavras, se multiplicou num espectro – sem limites.
*
aberta a ferida, o sangue pode alimentar o criador
mas jamais sustentará a criatura.
guardado nos intestinos, permanece –
até à solução nas entranhas
de quem se escreve e modifica.
em parte assimilado, em parte defecado
poucos vestígios deixa para além de uma memória
cujos fragmentos ninguém consegue (ou deseja) registar.
*
nada resulta da análise do sangue ou da água.
colocados sobre lâminas de vidro
não deixam vestígios que permitam ao criador
avaliar a consistência da criatura.
glóbulos e plaquetas depressa apodrecem
na insegurança de um plasma
sem capacidade para resistir à erosão
de algumas células, cujo núcleo se divide
até à explosão do tempo.
numa das lamelas há contudo
pequenos cristais de cloro e de sódio.
regressada ao vapor do início, a água
proveniente do tórax
entra de novo num ciclo feito de fogo e de metamorfose.
mesmo sem espaço, volta a irrigar
quanto transcende a estrutura
de um edifício perfurado pela faca ou pela lança.
*
sangra-se o poema. não sobrevive –
se a água não circula pelas veias.
70 % do poema é apenas água – salgada –
sal da terra. a mina sustenta
todas as formas de vida que povoam
e elevam a existência.
haverá células mortas (o ferro evita a anemia
mas não impede a secura
e o apodrecimento das palavras).
o corpo permanece. com sangue, sem água
não passará no entanto de um cadáver –
múmia conservada como pedra
numa redoma de vidro.
2.
a gordura (das palavras)
altera a circulação do sangue
nas veias que conduzem ao coração (do poema).
a cisão dos átomos difunde sobre o corpo
uma sombra invisível.
cria – na garganta e nas glândulas –
nódulos que vão resistindo à estabilidade da matéria.
a luz (não nego) atravessa a edificação dos ossos.
chega a devorar pedaços de carne
que Saturno não poderia rejeitar.
mas a gordura (das palavras)
vai alterando a circulação (no poema).
há corações que explodem
mãos que enegrecem quando a tarde avança.
cessante, a escrita anula
a escrita e a leitura.
(traduzir aumentaria a instabilidade das células.)
há ouro lançado no aterro.
a amputação dos dedos salvar-se-ia por ali.
3.
a gordura submerge os ossos –
e o poema. a anorexia (a que alguns chamam
“elegância” ou “concisão”) impede os movimentos de um corpo
que precisa de músculos para subir
até à boca – do vento ou do inferno –
lugares sem espaço nem semáforos
na circulação da alma.
é preciso que as glândulas funcionem
apenas o necessário.
o excesso e o defeito
perturbam o equilíbrio do organismo.
o trânsito, nos intestinos, rejeita uma vida sedentária.
fibras, bífidus e muita água, sem aromas, da nascente
auxiliam a digestão de um mundo
com pés mergulhados em óleo de fritura
comendo carne e tubérculos
sem qualquer capacidade de dissolução na corrente
que alimenta os vasos sanguíneos.
submersos os ossos, entupidas as veias –
o colesterol do poema impede a circulação
do sangue nas palavras (água salgada a irrigar as estruturas do cérebro).
pode bater o coração. pode bater.
sem a agilidade e o dinamismo
das estruturas e do pensamento
nada nem ninguém conseguirá contudo
evitar a síncope das válvulas do sentido.
ou, pelo menos, o inchaço dos membros inferiores –
à espera da amputação pela gangrena.
4.
o retrocesso dos músculos e da carne
colou aos ossos uma pele sem água.
o esqueleto surge à superfície.
(sem reboco, a estrutura não resiste
ao embate da chuva e do vento.
pilares e tijolos sujeitam-se a uma erosão
que, em pouco tempo, arrasa o edifício.)
a pele protege os ossos e a cartilagem.
não é contudo suficiente para compensar
a atrofia dos músculos.
o movimento do corpo apresenta
um frágil equilíbrio. quase morta, a criatura
espera sobre a mesa
o avanço do lume e a dispersão das cinzas.
5.
uma longa tábua (de castanho? de vidoeiro?)
apresenta sobre os veios
um corpo em decomposição.
o quadro, composto em Basileia
no ano de 1521, chama-nos
para o seu exercício de síntese.
pintado agora, o apodrecimento das células
seria apenas uma linha sinuosa sobre o espaço.
o grafiti ocuparia paredes e paredes
de betão sem tinta. nada mais seria necessário.
ressuscitar é recompor os átomos
carbonizados pela introdução do ferro e da madeira
entre os músculos e os ossos.
6.
a autópsia confirma o estado do cadáver.
a putrefacção suspende-se entre o quarto
e o sexto dia de enterramento.
aberta a caixa toráxica, verifica-se
uma total ausência de vísceras.
sem coração, sem baço nem pulmões
sem fígado nem estômago nem intestinos
às paredes internas encostam-se no entanto
restos de uma complexa estrutura de circulação
que conduz o sangue e a linfa
do cérebro às diversas partes do corpo.
observado o esqueleto, nota-se a presença
de cristais de salgema entre as vértebras
e também, em menor quantidade,
sobre o externo e noutros ossos do tronco.
a pele, a iniciar o processo de desidratação,
apresenta pequenas manchas, entre o verde e o roxo,
distribuídas de maneira quase uniforme –
mas com maior incidência sobre o polegar
o médio e o indicador da mão direita.
7.
cinza. sobre as cinzas, a raiz do zambujeiro.
sobre as raízes da árvore, o mijo dos canídeos
ou de qualquer bexiga apressada
na incontinência dos cálculos
literários.
*
não espereis azeite desses ramos.
placas de mármore não estimula as raízes.
sem mão na poda ou na enxertia
escórias de chumbo e cinza de papel
nada podem fazer pelo zambujeiro.
*
palavras dessas não servem para estrume
mesmo com esterco de bichos à mistura.
8.
a impureza dos astros compõe o firmamento.
o poeta entra de burro na cidade
deixando pelas ruas o estrume das palavras.
resíduos de palha e de verdura
fermentam na calçada
fazendo romper por entre as casas
línguas de fogo que queimam o rosto e os cabelos.
o odor do estrume incomoda os transeuntes.
com a mão no nariz, abanam a cabeça
não percebendo que o gás libertado
aqueceria o interior da casa onde habitam.
*
batem latas do lado do rio.
afugentam os abutres que tentam debicar
a madeira do poeta. não seria necessário.
ao seu lado, os corvos resguardam a impureza
do corpo, onde brilha ainda a memória dos navegantes
e de outro esperma lançado sobre as sílabas.
o navio reflecte a terra inteira.
os espelhos trazem de dentro todo o sangue
que enobrece a madrugada.
há risos e fumo cortando o horizonte.
as ondas agasalham a montanha.
trazem de longe o asfalto pisado
e as imagens estranhas que povoam a forja
onde fundiram a imperfeição dos sonhos.
*
nada subsiste do corpo do poeta.
ossos, cabelo, tripas, veias, pele
e outras vísceras irão participar da podridão dos mortos.
os átomos dispersar-se-ão. se o outro disse a verdade
reviverão nas árvores, na pedra, noutros pedaços
da madeira de deus (alguns, talvez, abutres como os de agora).
o estrume do poeta reverdecerá de outro modo.
em ervas daninhas que nunca alimentarão
o estômago de um anjo ou de uma besta
mas guiarão os olhos até à justiça da sombra
permitindo a constante e discreta movimentação do vento
que levará – sem pressas – sementes igualmente daninhas
até aos confins da terra.
9.
as flores, nesse prado, são de plástico.
brilham. parecem lançar sobre nós um odor intenso.
são na verdade plantas de cemitério
dispostas sobre o campo –
nos seus caules de arame revestido.
gotas de chuva deslizam nas pétalas de uma rosa.
toco-a com os dedos. não encontro água
mas imitação de água.
acrílico ou silicone colado sobre o plástico
em que a cor – iluminando embora o olhar
(e a sepultura) – nada oferece aos sentidos.
enterradas, essas flores permanecerão –
mas nunca serão flores.
para viverem, precisariam de morrer
de apodrecer – como escreveu Saúl
das rosas (verdadeiras)
com raízes, espinhos e perfume.
10.
a memória-descritiva assegura-nos
de que a estátua (ou medalhão)
é de bronze, de pedra ou cera d’ abelhas –
mas no fundo temos a certeza
de que o miolo da efígie
não passa de sabão ou detergente.
em segredo, a imagem do poeta
foi talhada nos litros de gordura
que a reciclagem juntou com devoção
em latas ferrugentas ou bacias –
e que a diligência misturou em casa
com certo químico, para esfregar a roupa.
há um ar de barrela na escultura
sujeita à erosão dos elementos
(para que a face não se reconheça).
se a cinza branqueava o pano-cru
e o sol corava, sobre a erva, a roupa branca –
do esperma, da urina ou da catinga –
porque não lavrar no sabonete
(no omo, no clarim, noutro produto –
bom prà lavagem do corpo ou da farpela)
busto ou memória que pareça bronze
pedra-mármore ou placa de cantaria?
lavam mais branco estes rituais
quando não têm espinha ou criação.
assim se evitam sobre as faces cândidas
as nódoas e as manchas do passado:
de um lado a graxa, o unto, o beija-mão;
do outro o escarro, o pontapé, a morte.
(Tirando o nº. 7, estes poemas foram publicados no número 1 da revista Suroeste, editada em Badajoz por Antonio Sáez Delgado. Surgem agora numa versão versificada.)
1.
sangra-se a criatura.
introduzida entre os músculos
a faca (ou lança) encontra imagens em dispersão
objectos com bolor ou com ferrugem
mãos cheias de sangue
folhas e livros com nódoas de tinta e de gordura.
para que viva e permaneça
é necessário que o golpe rasgado entre os ossos
lance nos olhos do criador
alguns decilitros de água
salgada, nascida nas vísceras de um corpo
em que algumas manchas na pele
revelam úlceras no estômago ou no duodeno.
apenas água – sal onde todos os sedimentos
(do tempo e do espaço?), todas as secreções
(da existência?) se dissolveram
para produzirem uma luz branca
que, tendo atravessado o prisma
das palavras, se multiplicou num espectro – sem limites.
*
aberta a ferida, o sangue pode alimentar o criador
mas jamais sustentará a criatura.
guardado nos intestinos, permanece –
até à solução nas entranhas
de quem se escreve e modifica.
em parte assimilado, em parte defecado
poucos vestígios deixa para além de uma memória
cujos fragmentos ninguém consegue (ou deseja) registar.
*
nada resulta da análise do sangue ou da água.
colocados sobre lâminas de vidro
não deixam vestígios que permitam ao criador
avaliar a consistência da criatura.
glóbulos e plaquetas depressa apodrecem
na insegurança de um plasma
sem capacidade para resistir à erosão
de algumas células, cujo núcleo se divide
até à explosão do tempo.
numa das lamelas há contudo
pequenos cristais de cloro e de sódio.
regressada ao vapor do início, a água
proveniente do tórax
entra de novo num ciclo feito de fogo e de metamorfose.
mesmo sem espaço, volta a irrigar
quanto transcende a estrutura
de um edifício perfurado pela faca ou pela lança.
*
sangra-se o poema. não sobrevive –
se a água não circula pelas veias.
70 % do poema é apenas água – salgada –
sal da terra. a mina sustenta
todas as formas de vida que povoam
e elevam a existência.
haverá células mortas (o ferro evita a anemia
mas não impede a secura
e o apodrecimento das palavras).
o corpo permanece. com sangue, sem água
não passará no entanto de um cadáver –
múmia conservada como pedra
numa redoma de vidro.
2.
a gordura (das palavras)
altera a circulação do sangue
nas veias que conduzem ao coração (do poema).
a cisão dos átomos difunde sobre o corpo
uma sombra invisível.
cria – na garganta e nas glândulas –
nódulos que vão resistindo à estabilidade da matéria.
a luz (não nego) atravessa a edificação dos ossos.
chega a devorar pedaços de carne
que Saturno não poderia rejeitar.
mas a gordura (das palavras)
vai alterando a circulação (no poema).
há corações que explodem
mãos que enegrecem quando a tarde avança.
cessante, a escrita anula
a escrita e a leitura.
(traduzir aumentaria a instabilidade das células.)
há ouro lançado no aterro.
a amputação dos dedos salvar-se-ia por ali.
3.
a gordura submerge os ossos –
e o poema. a anorexia (a que alguns chamam
“elegância” ou “concisão”) impede os movimentos de um corpo
que precisa de músculos para subir
até à boca – do vento ou do inferno –
lugares sem espaço nem semáforos
na circulação da alma.
é preciso que as glândulas funcionem
apenas o necessário.
o excesso e o defeito
perturbam o equilíbrio do organismo.
o trânsito, nos intestinos, rejeita uma vida sedentária.
fibras, bífidus e muita água, sem aromas, da nascente
auxiliam a digestão de um mundo
com pés mergulhados em óleo de fritura
comendo carne e tubérculos
sem qualquer capacidade de dissolução na corrente
que alimenta os vasos sanguíneos.
submersos os ossos, entupidas as veias –
o colesterol do poema impede a circulação
do sangue nas palavras (água salgada a irrigar as estruturas do cérebro).
pode bater o coração. pode bater.
sem a agilidade e o dinamismo
das estruturas e do pensamento
nada nem ninguém conseguirá contudo
evitar a síncope das válvulas do sentido.
ou, pelo menos, o inchaço dos membros inferiores –
à espera da amputação pela gangrena.
4.
o retrocesso dos músculos e da carne
colou aos ossos uma pele sem água.
o esqueleto surge à superfície.
(sem reboco, a estrutura não resiste
ao embate da chuva e do vento.
pilares e tijolos sujeitam-se a uma erosão
que, em pouco tempo, arrasa o edifício.)
a pele protege os ossos e a cartilagem.
não é contudo suficiente para compensar
a atrofia dos músculos.
o movimento do corpo apresenta
um frágil equilíbrio. quase morta, a criatura
espera sobre a mesa
o avanço do lume e a dispersão das cinzas.
5.
uma longa tábua (de castanho? de vidoeiro?)
apresenta sobre os veios
um corpo em decomposição.
o quadro, composto em Basileia
no ano de 1521, chama-nos
para o seu exercício de síntese.
pintado agora, o apodrecimento das células
seria apenas uma linha sinuosa sobre o espaço.
o grafiti ocuparia paredes e paredes
de betão sem tinta. nada mais seria necessário.
ressuscitar é recompor os átomos
carbonizados pela introdução do ferro e da madeira
entre os músculos e os ossos.
6.
a autópsia confirma o estado do cadáver.
a putrefacção suspende-se entre o quarto
e o sexto dia de enterramento.
aberta a caixa toráxica, verifica-se
uma total ausência de vísceras.
sem coração, sem baço nem pulmões
sem fígado nem estômago nem intestinos
às paredes internas encostam-se no entanto
restos de uma complexa estrutura de circulação
que conduz o sangue e a linfa
do cérebro às diversas partes do corpo.
observado o esqueleto, nota-se a presença
de cristais de salgema entre as vértebras
e também, em menor quantidade,
sobre o externo e noutros ossos do tronco.
a pele, a iniciar o processo de desidratação,
apresenta pequenas manchas, entre o verde e o roxo,
distribuídas de maneira quase uniforme –
mas com maior incidência sobre o polegar
o médio e o indicador da mão direita.
7.
cinza. sobre as cinzas, a raiz do zambujeiro.
sobre as raízes da árvore, o mijo dos canídeos
ou de qualquer bexiga apressada
na incontinência dos cálculos
literários.
*
não espereis azeite desses ramos.
placas de mármore não estimula as raízes.
sem mão na poda ou na enxertia
escórias de chumbo e cinza de papel
nada podem fazer pelo zambujeiro.
*
palavras dessas não servem para estrume
mesmo com esterco de bichos à mistura.
8.
a impureza dos astros compõe o firmamento.
o poeta entra de burro na cidade
deixando pelas ruas o estrume das palavras.
resíduos de palha e de verdura
fermentam na calçada
fazendo romper por entre as casas
línguas de fogo que queimam o rosto e os cabelos.
o odor do estrume incomoda os transeuntes.
com a mão no nariz, abanam a cabeça
não percebendo que o gás libertado
aqueceria o interior da casa onde habitam.
*
batem latas do lado do rio.
afugentam os abutres que tentam debicar
a madeira do poeta. não seria necessário.
ao seu lado, os corvos resguardam a impureza
do corpo, onde brilha ainda a memória dos navegantes
e de outro esperma lançado sobre as sílabas.
o navio reflecte a terra inteira.
os espelhos trazem de dentro todo o sangue
que enobrece a madrugada.
há risos e fumo cortando o horizonte.
as ondas agasalham a montanha.
trazem de longe o asfalto pisado
e as imagens estranhas que povoam a forja
onde fundiram a imperfeição dos sonhos.
*
nada subsiste do corpo do poeta.
ossos, cabelo, tripas, veias, pele
e outras vísceras irão participar da podridão dos mortos.
os átomos dispersar-se-ão. se o outro disse a verdade
reviverão nas árvores, na pedra, noutros pedaços
da madeira de deus (alguns, talvez, abutres como os de agora).
o estrume do poeta reverdecerá de outro modo.
em ervas daninhas que nunca alimentarão
o estômago de um anjo ou de uma besta
mas guiarão os olhos até à justiça da sombra
permitindo a constante e discreta movimentação do vento
que levará – sem pressas – sementes igualmente daninhas
até aos confins da terra.
9.
as flores, nesse prado, são de plástico.
brilham. parecem lançar sobre nós um odor intenso.
são na verdade plantas de cemitério
dispostas sobre o campo –
nos seus caules de arame revestido.
gotas de chuva deslizam nas pétalas de uma rosa.
toco-a com os dedos. não encontro água
mas imitação de água.
acrílico ou silicone colado sobre o plástico
em que a cor – iluminando embora o olhar
(e a sepultura) – nada oferece aos sentidos.
enterradas, essas flores permanecerão –
mas nunca serão flores.
para viverem, precisariam de morrer
de apodrecer – como escreveu Saúl
das rosas (verdadeiras)
com raízes, espinhos e perfume.
10.
a memória-descritiva assegura-nos
de que a estátua (ou medalhão)
é de bronze, de pedra ou cera d’ abelhas –
mas no fundo temos a certeza
de que o miolo da efígie
não passa de sabão ou detergente.
em segredo, a imagem do poeta
foi talhada nos litros de gordura
que a reciclagem juntou com devoção
em latas ferrugentas ou bacias –
e que a diligência misturou em casa
com certo químico, para esfregar a roupa.
há um ar de barrela na escultura
sujeita à erosão dos elementos
(para que a face não se reconheça).
se a cinza branqueava o pano-cru
e o sol corava, sobre a erva, a roupa branca –
do esperma, da urina ou da catinga –
porque não lavrar no sabonete
(no omo, no clarim, noutro produto –
bom prà lavagem do corpo ou da farpela)
busto ou memória que pareça bronze
pedra-mármore ou placa de cantaria?
lavam mais branco estes rituais
quando não têm espinha ou criação.
assim se evitam sobre as faces cândidas
as nódoas e as manchas do passado:
de um lado a graxa, o unto, o beija-mão;
do outro o escarro, o pontapé, a morte.
(Tirando o nº. 7, estes poemas foram publicados no número 1 da revista Suroeste, editada em Badajoz por Antonio Sáez Delgado. Surgem agora numa versão versificada.)
Cartaz do evento |
Lendo poemas publicados no nº. 1 da revista SUROESTE (foto de Fernando Aguiar) |
Lendo poemas (foto de Fernando Aguiar) |
Lendo poemas (foto de Fernando Aguiar) |
Outra fotografia do jantar. |
A CIDADE ATRAVESSA
18 de Maio de 2011. Participação em Lisboa no Festival Internacional de Poesia "A Cidade Atravessa", organizado por Márcio-André com o apoio da Embaixada do Brasil, o qual teve lugar na Casa Fernando Pessoa.
LEVI CONDINHO
"Ruy Ventura - Instrumentos de Sopro"
in Colóquio / Letras, nº 176, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Janeiro / Abril de 2011: 227 - 229.
Vencedor, em 2000, do Prémio Revelação de Poesia, da Associação Portuguesa de Escritores, Ruy Ventura, nascido em 1973 na Serra de São Mamede, publicou, depois do seu primeiro livro de poesia, Arquitectura do Silêncio, mais cinco livros de poemas, alguns traduzidos em Espanha e um nos Estados Unidos. E menciono apenas a sua produção poética; por outros géneros e actividades literárias se espraiou Ruy Ventura.
Senhor de uma cada vez mais apurada ciência da linguagem, onde detectamos a laboriosa reflexão sobre a mesma, enformada por uma vasta e ecléctica cultura, proponho-me extrair da leitura da sua obra, e, sobretudo, de Instrumentos de Sopro, dois tópicos (entre outros possíveis) fundadores da sua poética: a) o elementarismo; b) a religião/religação.
Refiro o elementarismo, desde logo, pela atenção devota às coisas do mundo, da natureza (dos elementos) do tempo, da(s) memória(s), dos ritos do trabalho / da lavoura (e da arte), da história, do microcosmos do pequeno – mas nobilitante – quotidiano, ao macrocosmos em que ousamos, através do “sopro”, emitido a partir dos “instrumentos” de um corpo indissociado do espírito, pesarmo-nos na “balança transcendente das coisas” (Antero de Quental): “nesta noite em que vigiamos / o forno do alto da mais alta torre” (poema 39, “síntese”).
Determinante do elementarismo em questão é a própria matéria da linguagem, plena de contenção, de palavras sopesadas e oferecidas, uma a uma, diríamos, ao “sabor / paladar”, ao “táctil” do leitor, numa coesão orgânica que nos envia, remotamente, para as poéticas, por exemplo, de um certo Carlos de Oliveira, de um Nuno Guimarães. Palavras substanciais, em que signo e referente se casam indissociados, assentes, sobretudo, em substantivos (pedra, árvore, água, vinho, pão, casa, corpo, etc.) que raramente necessitam do abrilhantamento do adjectivo para projectarem o fulgor do seu brilho. Palavras associadas, por via de sábias “técnicas de engate” em que o óbvio é recusado, amiúde, para dar lugar ao efeito de estranhamento, à inesperada substituição de signos (“a janela guarda no poço uma língua estranha”), palavras que escavam, que raspam, que procuram o vestígio, o achado arqueológico, o arcano, “palavras que ninguém entende mas todos queremos escutar” (8, “evocação”), pelas quais o “caçador afasta o nevoeiro para melhor entender o nevoeiro” (2, “aparição”), nas quais coabitam “os ossos e a estrutura mineral das horas” (11, “registo”).
Referindo agora o outro tópico, aqui me surge o maior embaraço da escolha, já que toda a obra (e a vida, sei-o eu) de RV é, mais do que atravessada, pan-estruturada pela religião/religação. Não por acaso, RV (num poema do epílogo) escreve “ora. e labora. ora e labora” em alusão à recomendação de São Bento “ora et labora et noli contristari”, aqui se podendo acrescentar, para maior abrangência contra um possível reducionismo da sentença beneditina, o conselho de Agostinho da Silva: “Tudo o que fizermos, o façamos bem feito […] com disposição e intensidade litúrgicas.”
Se a religião surge, permanentemente, em RV, nos seus aspectos visíveis, rituais, litúrgicos (catedral, torre, sino, paramento…) com fortes reminiscências dos textos sagrados do cristianismo e do judaísmo (“a árvore / nascida no início.” – 25, “escritura”), numa denúncia clara da saudável prática cristã e católica (mas ecuménica) por parte do poeta, pobre seria a leitura da sua poesia se não ultrapassássemos essa prática/mundo no sentido de uma demanda/outra que é a do espiritual (por exemplo, no sentido estético kandinskyano), da luta pelo “achamento” do coração do invisível, em que “dois anjos abraçam o cume da montanha” (25, “escrituras”), enquanto se escutam “os sinos embalando o nevoeiro” (9, “regresso”).
E posso salientar, ainda nesse contexto de religião/religação, a denúncia, o protesto, a lamentação, contra a profanação do mundo (42, “cadáver” – sobre a transformação da igreja de São Julião, na Baixa lisboeta, em garagem de automóveis), contra o desrespeito e os atentados (incêndio da serra de Castelo de Vide, as questões em torno da serra da Malcata, etc.) contra a natureza (sagrada natureza), contra o património artístico e religioso. E afirmo a minha admiração por um poema que, só por si, vale todo um livro (5, “purificação”), texto admirável em que se rememora toda a existência da igreja de São Domingos, em Lisboa, palco de fogo, de fogos (o fogo conclamando o fogo), queima de homens e queima (“o incêndio purificou a pedra e a memória”) do edifício no seu (belo, recordo) interior.
Ruy Ventura recorre neste seu livro a umas “notas de autor” em que nos fornece um “mapa/guião” como visita guiada aos seus poemas que, “não sendo tópicos ou ecfrásticos”, assentam sobre “elementos materiais (povoações, lugares, casas, igrejas, castelos, sítios e achados arqueológicos, esculturas e pinturas) que convulsionaram as palavras”. Reconhece-se aí uma mais-valia para a leitura, mas julgo que, mesmo que, como outros poetas fazem, se deixassem os poemas na obscuridade, sem tais pistas de leitura, a autonomia, só por si, de cada poema, já nos bastaria. Na “travessia” (poema 15) entre Amieira e as Portas do Ródão, leiamos, em aberto, qualquer outra travessia (a vida…): “trasladaram o trigo e o fermento / com que fui diminuindo / a minha sede. / só não quiseram levar o calor / do vinho eterno. a barca era demasiado estreita.”
Ruy Ventura é já um poeta maior da nossa contemporaneidade. Mas ele também sabe que “a linha desconhece esta presença. / o padrão (se existiu) foi engolido / pela velocidade com que passaram” (15, “travessia”).
"Ruy Ventura - Instrumentos de Sopro"
in Colóquio / Letras, nº 176, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Janeiro / Abril de 2011: 227 - 229.
Vencedor, em 2000, do Prémio Revelação de Poesia, da Associação Portuguesa de Escritores, Ruy Ventura, nascido em 1973 na Serra de São Mamede, publicou, depois do seu primeiro livro de poesia, Arquitectura do Silêncio, mais cinco livros de poemas, alguns traduzidos em Espanha e um nos Estados Unidos. E menciono apenas a sua produção poética; por outros géneros e actividades literárias se espraiou Ruy Ventura.
Senhor de uma cada vez mais apurada ciência da linguagem, onde detectamos a laboriosa reflexão sobre a mesma, enformada por uma vasta e ecléctica cultura, proponho-me extrair da leitura da sua obra, e, sobretudo, de Instrumentos de Sopro, dois tópicos (entre outros possíveis) fundadores da sua poética: a) o elementarismo; b) a religião/religação.
Refiro o elementarismo, desde logo, pela atenção devota às coisas do mundo, da natureza (dos elementos) do tempo, da(s) memória(s), dos ritos do trabalho / da lavoura (e da arte), da história, do microcosmos do pequeno – mas nobilitante – quotidiano, ao macrocosmos em que ousamos, através do “sopro”, emitido a partir dos “instrumentos” de um corpo indissociado do espírito, pesarmo-nos na “balança transcendente das coisas” (Antero de Quental): “nesta noite em que vigiamos / o forno do alto da mais alta torre” (poema 39, “síntese”).
Determinante do elementarismo em questão é a própria matéria da linguagem, plena de contenção, de palavras sopesadas e oferecidas, uma a uma, diríamos, ao “sabor / paladar”, ao “táctil” do leitor, numa coesão orgânica que nos envia, remotamente, para as poéticas, por exemplo, de um certo Carlos de Oliveira, de um Nuno Guimarães. Palavras substanciais, em que signo e referente se casam indissociados, assentes, sobretudo, em substantivos (pedra, árvore, água, vinho, pão, casa, corpo, etc.) que raramente necessitam do abrilhantamento do adjectivo para projectarem o fulgor do seu brilho. Palavras associadas, por via de sábias “técnicas de engate” em que o óbvio é recusado, amiúde, para dar lugar ao efeito de estranhamento, à inesperada substituição de signos (“a janela guarda no poço uma língua estranha”), palavras que escavam, que raspam, que procuram o vestígio, o achado arqueológico, o arcano, “palavras que ninguém entende mas todos queremos escutar” (8, “evocação”), pelas quais o “caçador afasta o nevoeiro para melhor entender o nevoeiro” (2, “aparição”), nas quais coabitam “os ossos e a estrutura mineral das horas” (11, “registo”).
Referindo agora o outro tópico, aqui me surge o maior embaraço da escolha, já que toda a obra (e a vida, sei-o eu) de RV é, mais do que atravessada, pan-estruturada pela religião/religação. Não por acaso, RV (num poema do epílogo) escreve “ora. e labora. ora e labora” em alusão à recomendação de São Bento “ora et labora et noli contristari”, aqui se podendo acrescentar, para maior abrangência contra um possível reducionismo da sentença beneditina, o conselho de Agostinho da Silva: “Tudo o que fizermos, o façamos bem feito […] com disposição e intensidade litúrgicas.”
Se a religião surge, permanentemente, em RV, nos seus aspectos visíveis, rituais, litúrgicos (catedral, torre, sino, paramento…) com fortes reminiscências dos textos sagrados do cristianismo e do judaísmo (“a árvore / nascida no início.” – 25, “escritura”), numa denúncia clara da saudável prática cristã e católica (mas ecuménica) por parte do poeta, pobre seria a leitura da sua poesia se não ultrapassássemos essa prática/mundo no sentido de uma demanda/outra que é a do espiritual (por exemplo, no sentido estético kandinskyano), da luta pelo “achamento” do coração do invisível, em que “dois anjos abraçam o cume da montanha” (25, “escrituras”), enquanto se escutam “os sinos embalando o nevoeiro” (9, “regresso”).
E posso salientar, ainda nesse contexto de religião/religação, a denúncia, o protesto, a lamentação, contra a profanação do mundo (42, “cadáver” – sobre a transformação da igreja de São Julião, na Baixa lisboeta, em garagem de automóveis), contra o desrespeito e os atentados (incêndio da serra de Castelo de Vide, as questões em torno da serra da Malcata, etc.) contra a natureza (sagrada natureza), contra o património artístico e religioso. E afirmo a minha admiração por um poema que, só por si, vale todo um livro (5, “purificação”), texto admirável em que se rememora toda a existência da igreja de São Domingos, em Lisboa, palco de fogo, de fogos (o fogo conclamando o fogo), queima de homens e queima (“o incêndio purificou a pedra e a memória”) do edifício no seu (belo, recordo) interior.
Ruy Ventura recorre neste seu livro a umas “notas de autor” em que nos fornece um “mapa/guião” como visita guiada aos seus poemas que, “não sendo tópicos ou ecfrásticos”, assentam sobre “elementos materiais (povoações, lugares, casas, igrejas, castelos, sítios e achados arqueológicos, esculturas e pinturas) que convulsionaram as palavras”. Reconhece-se aí uma mais-valia para a leitura, mas julgo que, mesmo que, como outros poetas fazem, se deixassem os poemas na obscuridade, sem tais pistas de leitura, a autonomia, só por si, de cada poema, já nos bastaria. Na “travessia” (poema 15) entre Amieira e as Portas do Ródão, leiamos, em aberto, qualquer outra travessia (a vida…): “trasladaram o trigo e o fermento / com que fui diminuindo / a minha sede. / só não quiseram levar o calor / do vinho eterno. a barca era demasiado estreita.”
Ruy Ventura é já um poeta maior da nossa contemporaneidade. Mas ele também sabe que “a linha desconhece esta presença. / o padrão (se existiu) foi engolido / pela velocidade com que passaram” (15, “travessia”).
LIVROS DE 2010
Considero inútil a listagem dos melhores livros publicados num ano que fecha. Serve apenas interesses comerciais - uma vez que é impossível tê-los lido todos. Como se sabe, ninguém pode servir ao mesmo tempo o Espírito e o Dinheiro... Pelo contrário, parece-me útil a revelação dos livros que mais marcaram um ser humano durante uma parcela do tempo. Há anos que o venho fazendo e este ano não é excepção. Aqui fica a lista:
ETTY HILLESUM - "Cartas" e "Diário 1943 - 1945"
ROBERT MUSIL - "L' Homme sans Qualités" (edição francesa)
PEDRO MACIEL - "Como deixei de ser deus" (2009)
ALBERTO VELHO NOGUEIRA - "Baldes - Restos" (2001)
AMADEU BAPTISTA - "Doze Cantos do Mundo" (2009)
PEDRO TAMEN - "O Livro do Sapateiro" (2010)
HALLDÓR LAXNESS - "Gente Independente" (1934/35)
YVES NAMUR - "Figures du très obscur" (2000)
MARIA TERESA DUARTE MARTINHO - "Visões e Demonstrações" (2006)
TEIXEIRA DE PASCOAES - "Ensaios de Exegese Literária e Vária Escrita" (2004)
JULIO CORTÁZAR - "Rayuela" (1963)
GEORGE ORWELL - "Livros & Cigarros"
CASÉ LONTRA MARQUES - "A densidade do céu sobre a demolição" e "Saber o sol do esquecimento" (2010)
JOSEPH RATZINGER - "Fé e Futuro" (1970) e "A Europa de Bento na crise de culturas" (2005)
MÁRCIO-ANDRÉ - "Ensaios Radioativos" (2008)
FERNANDO ECHEVARRÍA - "Lugar de Estudo" (2009)
FIALHO D' ALMEIDA - "Barbear, pentear"
MARC CHAGALL - "Ma Vie" (1922)
LUIZ PACHECO - "Textos Sadinos"
FREY IOANNES GARABATUS - "As Quybyrycas" (1972)
ROBERTO BOLAÑO - "2666" (2004)
ADALBERTO ALVES - "As Sandálias do Mestre" (2009)
LUÍS DE CAMÕES - "Rimas"
FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO - "Obra Breve"
J. P. OLIVEIRA MARTINS - "Correspondência"
NUNO RAMOS - "Ó" (2008)
CRISTOVAM PAVIA - "Poesia" (ed. 2010)
MARIA GABRIELA LLANSOL - "Livro de Horas II"
ALBERTO MANGUEL - "The Library at Night" (2006) e "Reading Pictures [...]" (2000)
EÇA DE QUEIRÓS - "A Correspondência de Fradique Mendes" (1900)
J. M. G. LE CLÉZIO - "L' Extase Matérielle" (1967)
ÁLVARO RIBEIRO - "A Razão Animada" (1956)
Considero inútil a listagem dos melhores livros publicados num ano que fecha. Serve apenas interesses comerciais - uma vez que é impossível tê-los lido todos. Como se sabe, ninguém pode servir ao mesmo tempo o Espírito e o Dinheiro... Pelo contrário, parece-me útil a revelação dos livros que mais marcaram um ser humano durante uma parcela do tempo. Há anos que o venho fazendo e este ano não é excepção. Aqui fica a lista:
ETTY HILLESUM - "Cartas" e "Diário 1943 - 1945"
ROBERT MUSIL - "L' Homme sans Qualités" (edição francesa)
PEDRO MACIEL - "Como deixei de ser deus" (2009)
ALBERTO VELHO NOGUEIRA - "Baldes - Restos" (2001)
AMADEU BAPTISTA - "Doze Cantos do Mundo" (2009)
PEDRO TAMEN - "O Livro do Sapateiro" (2010)
HALLDÓR LAXNESS - "Gente Independente" (1934/35)
YVES NAMUR - "Figures du très obscur" (2000)
MARIA TERESA DUARTE MARTINHO - "Visões e Demonstrações" (2006)
TEIXEIRA DE PASCOAES - "Ensaios de Exegese Literária e Vária Escrita" (2004)
JULIO CORTÁZAR - "Rayuela" (1963)
GEORGE ORWELL - "Livros & Cigarros"
CASÉ LONTRA MARQUES - "A densidade do céu sobre a demolição" e "Saber o sol do esquecimento" (2010)
JOSEPH RATZINGER - "Fé e Futuro" (1970) e "A Europa de Bento na crise de culturas" (2005)
MÁRCIO-ANDRÉ - "Ensaios Radioativos" (2008)
FERNANDO ECHEVARRÍA - "Lugar de Estudo" (2009)
FIALHO D' ALMEIDA - "Barbear, pentear"
MARC CHAGALL - "Ma Vie" (1922)
LUIZ PACHECO - "Textos Sadinos"
FREY IOANNES GARABATUS - "As Quybyrycas" (1972)
ROBERTO BOLAÑO - "2666" (2004)
ADALBERTO ALVES - "As Sandálias do Mestre" (2009)
LUÍS DE CAMÕES - "Rimas"
FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO - "Obra Breve"
J. P. OLIVEIRA MARTINS - "Correspondência"
NUNO RAMOS - "Ó" (2008)
CRISTOVAM PAVIA - "Poesia" (ed. 2010)
MARIA GABRIELA LLANSOL - "Livro de Horas II"
ALBERTO MANGUEL - "The Library at Night" (2006) e "Reading Pictures [...]" (2000)
EÇA DE QUEIRÓS - "A Correspondência de Fradique Mendes" (1900)
J. M. G. LE CLÉZIO - "L' Extase Matérielle" (1967)
ÁLVARO RIBEIRO - "A Razão Animada" (1956)
AULA IBÉRICA
[António Sáez Delgado]
Ruy Ventura
'Instrumentos de sopro'
Diário espanhol Hoy, 03.01.2011:
http://www.hoy.es/v/20110103/sociedad/h2aula-iberica-h2ruy-ventura-20110103.html
Son muchos los lectores de Raya de Papel que nos han pedido que ampliemos nuestras propuestas de lectura a libros originales en lengua portuguesa de los que no exista traducción española. Uno muy recomendable es este 'Instrumentos de sopro', de Ruy Ventura, publicado por Edições Sempre-em-Pé, y que supone la séptima entrega poética de este autor de Portalegre. En él explora buena parte del terreno simbólico que sostiene su obra, una de las más personales de la reciente poesía lusa. La cita de Josep M. Rodríguez que le sirve de prólogo («Vivir es abrazar oscuridades: / de lo que no sabemos a lo que no sabemos, / desde una lejanía a otra lejanía. / Todo es inaccesible») ofrece ya claros indicios del territorio que habita la poesía de Ruy Ventura, que se convierte en indagación profunda y serena sobre la trascendencia de la existencia y sus huellas en la vida cotidiana y en el espacio, convertido en territorio, que habitamos. Es la suya una poesía profundamente simbólica, que concede especial importancia a lo sustantivo, a la esencia de esa búsqueda permanente. Y lo hace desde una poética que bebe de diferentes tradiciones y en la que cobran singular importancia sus contactos, como buen hombre de la Raya, con algunos escritores extremeños. La proximidad del poeta con su tierra es otra de las constantes de su poesía, que nace con vocación universal y con las mismas preocupaciones con que sus antepasados cultivaban los campos y veían correr los ríos del Alto Alentejo. Poesía, en suma, reflexiva, meditativa, afilada a veces como un cuchillo.
[António Sáez Delgado]
Ruy Ventura
'Instrumentos de sopro'
Diário espanhol Hoy, 03.01.2011:
http://www.hoy.es/v/20110103/sociedad/h2aula-iberica-h2ruy-ventura-20110103.html
Son muchos los lectores de Raya de Papel que nos han pedido que ampliemos nuestras propuestas de lectura a libros originales en lengua portuguesa de los que no exista traducción española. Uno muy recomendable es este 'Instrumentos de sopro', de Ruy Ventura, publicado por Edições Sempre-em-Pé, y que supone la séptima entrega poética de este autor de Portalegre. En él explora buena parte del terreno simbólico que sostiene su obra, una de las más personales de la reciente poesía lusa. La cita de Josep M. Rodríguez que le sirve de prólogo («Vivir es abrazar oscuridades: / de lo que no sabemos a lo que no sabemos, / desde una lejanía a otra lejanía. / Todo es inaccesible») ofrece ya claros indicios del territorio que habita la poesía de Ruy Ventura, que se convierte en indagación profunda y serena sobre la trascendencia de la existencia y sus huellas en la vida cotidiana y en el espacio, convertido en territorio, que habitamos. Es la suya una poesía profundamente simbólica, que concede especial importancia a lo sustantivo, a la esencia de esa búsqueda permanente. Y lo hace desde una poética que bebe de diferentes tradiciones y en la que cobran singular importancia sus contactos, como buen hombre de la Raya, con algunos escritores extremeños. La proximidad del poeta con su tierra es otra de las constantes de su poesía, que nace con vocación universal y con las mismas preocupaciones con que sus antepasados cultivaban los campos y veían correr los ríos del Alto Alentejo. Poesía, en suma, reflexiva, meditativa, afilada a veces como un cuchillo.
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Aljezur, 18 de Dezembro de 2010
apresentação do livro "Memória d' Alva" na igreja matriz de Nossa Senhora d' Alva:
1 - Intervenção de José António Falcão
2 - Intervenção de RV
3 - RV e José António Falcão na sessão de autógrafos
(Mais fotografias, de F. Barradinha, em http://www.arquivodaljezur.blogspot.com/)
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