«A Igreja santifica-se imitando Maria», lembra o poeta Ruy VenturaA primeira conferência do sétimo ciclo de conferências do Centenário teve lugar esta tarde na Basílica de Nossa do Rosário de Fátima
A Basílica de Nossa do Rosário de Fátima acolheu esta tarde a primeira conferência do sétimo ciclo de conferências do Centenário centrado no tema do ano pastoral "O meu imaculado coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus". O poeta Ruy Ventura foi o orador de uma comunicação intitulada “«Maria guardava tudo no seu coração» - Da devoção a Maria a uma espiritualidade cordial”.
O poeta apresentou-se como peregrino, «num caminho que se transforma em encontro» enquanto «aprendiz nesta escola de fé».
«Maria é uma mulher que se perturba e interroga», e é caracterizada por três ações: «atenção, salvaguarda, e discernimento».
Ruy Ventura referiu-se a Maria como a «mais digna representante da humanidade, pelo seu coração puro, que além de ver Deus acima de todas as coisas sabe ouvi-lo e difundi-lo». Também os pastorinhos de Fátima, em 1916, tinham os seus corações «atentos» à mensagem que chegou do «altíssimo».
«A Igreja santifica-se imitando Maria», reiterou o poeta, que cita a Irmã Lúcia para dizer que «Todos somos peregrinos, quer queiramos quer não».
«O coração de Maria será o nosso refúgio», concluiu Ruy Ventura na primeira conferência do sétimo ciclo de conferências.
Ruy Ventura é oriundo da região da Serra de São Mamede no Alentejo. Licenciado em Línguas e mestre em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e desde 1995 docente, dividindo a sua atividade entre o 2º ciclo do ensino básico e o ensino superior. Iniciou a sua atividade literária na primeira metade dos anos 90. Escritor premiado, editou poemas e ensaios em variadíssimas publicações periódicas portuguesas, brasileiras, espanholas e norte-americanas, tendo assinado prefácios ou posfácios de algumas obras literárias editadas em Portugal e no Brasil. Presentemente, dirige com Nuno Matos Duarte a revista ibero-americana de cultura Devir.
A Basílica de Nossa Senhora do Rosário vai acolher no próximo domingo cinco conferências agendadas até abril de 2017, completando desta forma o ciclo de conferências que marcou o septenário de celebração do Centenário das Aparições na Cova da Iria.
A II Conferência vai ter lugar na Basílica de Nossa Senhora do rosário a 8 de janeiro de 2017 com o título «Mãe da Igreja, rogai por nós». A intercessão maternal da Virgem Maria, por Maria do Céu Patrão Neves. O segundo concerto dos Fragmentos Musicais, com o título «Recolhimento e Reflexão», pelo Coro da Academia de Música de Viana do Castelo. Estas iniciativas tem entrada livre.
(Notícia redigida pelos serviços do Santuário de Fátima, disponível aqui.)
Um excerto da conferência que, em 2017, será publicada pelo Santuário de Fátima: "É certo que, em 2016, se escolheu como palavra do ano a pós-verdade – que se afigura como sinónimo da mentira (de que é pai, como sabemos, o Diabo (Jo 8, 44)). Perante esse inquietante sinal do nosso tempo, somado a tantos outros que vão surgindo um pouco por todo o lado, decisivo se torna afirmarmos a Fé e a Esperança que nos vão conduzindo ao Amor. Parece-me que o Coração Imaculado – devolvido à “língua comum”, como propôs o padre Tolentino Mendonça – é uma boa metonímia do motor que nos purifica, nos move e nos leva ao cume aonde queremos e devemos chegar. Esse coração está presente em tudo quanto é mais importante: na memória que é recordação (ou saber de cor, pelo coração); na concórdia (que é paz sincera e interior); e, sobretudo, na Misericórdia, um dos mais eloquentes nomes de Deus, como lembrou o Papa Francisco ao longo do Jubileu Extraordinário recentemente concluído." |
CONFERÊNCIA EM FÁTIMA, NO PRÓXIMO
DOMINGO
Não
sei se este eterno aprendiz será a melhor chave para abrir o VII Ciclo de
Conferências comemorativo do Centenário das Aparições de Fátima, mas conto com
os ouvintes de boa-vontade que, no próximo domingo, dia 11 de Dezembro, pelas
16 horas, quiserem escutar as minhas palavras. Será na Basílica de Nossa
Senhora do Rosário de Fátima, na Cova da Iria - e tentarei desvendar (a partir
dos primeiros capítulos do Evangelho segundo São Lucas) um caminho espiritual
que passa pela atenção, pela salvaguarda e pelo discernimento, contra a
amnésia, a auto-suficiência, a indiferença, o medo e a morte, lembrando que o
coração, a recordação, a concórdia e a misericórdia são palavras nascidas da
mesma raiz.
Mais informações aqui.
SOBRE CONTRAMINA
Filipa Barata
No panorama de certa poesia portuguesa mais actual, e em especial no da sua geração, a voz de Ruy Ventura quase se assemelha a um oásis no meio do deserto poético de composições sobrecarregadas de imagens urbanas vazias, onde, em muitos casos, as referências culturais ou mesmo literárias são vagas.
Não será esta uma tendência exclusiva da poesia portuguesa, mas a crescente vulgarização da linguagem, onde o banal e o rotineiro tomam ares poéticos, apontando para um vazio pontuado por sensações imprecisas, onde se sente a ausência de um pensamento consentâneo que, porventura, não deve estar ausente desta ou de outras formas de escrita.
É neste contexto que Ruy Ventura nos dá a conhecer o seu último título, Contramina, depois de Arquitectura do Silêncio (2000), Chave de Ignição (2009) e Instrumentos de Sopro (2010), entre outros.
Um livro algo original este Contramina, que se não encontra essa originalidade em cada um dos elementos de per si, que o compõem, encontra-a certamente no modo como combina aquilo que parece ser a sua principal substância (metafísica, espiritual) com a estrutura que o enforma. Trata-se de um texto cuja filiação a um determinado género é difícil, porque, se o teor da sua mensagem é aparentemente poético, a verdade é que a sua forma o aproxima muito mais do género dramático – ou, pelo menos, do que convencionalmente se entende por cada um desses géneros.
Talvez não seja despiciendo que nos demoremos sobre a questão do género textual, em Contramina, já que isto levanta problemas teóricos, que apesar de não serem absolutamente novos, suscitam perguntas que nos permitem reflectir sobre o modo como lemos e classificamos certos textos. Assim, comecemos por colocar algumas perguntas: porque é que podemos considerar Contramina um livro de poesia? O que existe aí de poético? Será que se trata efectivamente de um texto poético ou é o modo como o lemos que é poético? Haverá um modo poético de ler certos textos que os pode transfigurar em poéticos mesmo que a sua mensagem não pretenda, porventura, ser poética?
Esperando poder responder a estas e outras questões em espaço mais oportuno, importa, no entanto, referir que apesar de Contramina aparecer classificado como um livro de poesia, esse é talvez apenas um modo de tornar a sua classificação mais fácil, uma vez que a sua mensagem parece aproximar-se mais do campo da filosofia mística ou de algumas das principais questões que rodeiam o pensamento cristão. Convém notar, aliás, que é talvez na reflexão sobre a palavra, e por extensão a divina, que encontramos um dos núcleos mais profícuos desta escrita. Na interrogação sobre a palavra de Deus e de como ela devém fogo ora purificador, ora transformador alicerça-se a força da linguagem, na qual inevitavelmente entroncam os mistérios sobre a existência humana e, por acréscimo, as questões de índole metafísica e espiritual que Contramina põe em cena. Atentemos, assim, para uma das falas que pertence ao nome de João:
sabemos distinguir a matéria do lugar? que voz se ouve? o pacto ecoa na palavra – e num brilho que a existência resguarda no fogo ou no fingimento. ter colhões, olhar olímpico – dizem – para descobrir (entre a execução e o roubo, entre excrementos e ruídos), sem nome, a gruta, a praia, a serra, o bosque, o prado, a rua, a casa, o largo – e, neles, o reino de Deus. (p. 12)
Cumpre dizer, ainda, que certas marcas do Antigo Testamento, mas também do Novo, estão patentes nesta obra sobretudo ao nível de uma linguagem que procura ser simbólica e, nesse sentido, desfazer-se um pouco de alguns elementos estilísticos. Vejamos, por isso, uma das falas que compete ao nome de Agostinho:
a voz conta o temor da passagem, a audição de um segredo que o confronto regista e multiplica. há pontes e açudes, mas ninguém conhece a largura das águas, a extensão das margens e a humidade da terra que o lodo acolhe e estrutura. verbo ecoando pelo mapa, este grito no parto. pomba voando da mão ao encontro do tiro ou da serpente. (p. 11)
Não estamos, portanto, no campo da literatura e sua retórica, no sentido mais ortodoxo do termo, porque Contramina nos atrai para essa linguagem depurada, que busca libertar-se de conotações demarcadas para ganhar uma natureza de símbolo, na qual a palavra transponha os limites do humano. Daí que uma análise puramente literária do seu conteúdo se torne difícil. Neste sentido, não devemos estranhar que, enquanto objecto literário, o texto de Contramina possa ser menos interessante, pese embora o facto de aparecer classificado, pelo próprio autor, no seu blogue pessoal, como um livro de poesia. No fundo, como vimos anteriormente, estamos perante um texto arredio a categorizações, mas é, provavelmente, nessa pertença a um género que temos de questioná-lo e interpretá-lo e, sobretudo, tentar perceber porque joga tão habilmente com as formas literárias que usa.
Se tivermos em conta o diálogo que se trava entre as várias vozes que, através do índice de figuras, atribuímos a referentes concretos – uma vez que muitos deles dizem respeito a nomes de personagens de ficção, poetas, pintores, filósofos, santos, etc. –, facilmente nos recordamos daquele outro diálogo que mantêm entre si as veladoras n’ O Marinheiro, de Fernando Pessoa. Estamos assim dentro da Contramina como num drama extático, sem movimento, onde a única coisa que pode ser digna dessa designação é a própria voz ou, no caso da obra em apreço, as vozes que se cruzam e que todas juntas procuram, quem sabe, as razões metafísicas e espirituais da sua própria existência. Cada uma dessas vozes, provenientes de áreas de conhecimento diversas, tende a usar um conjunto de vocábulos comuns como se se tratasse de um idioma que se modifica com a intervenção de cada uma dessas vozes. Posto isto, talvez não seja descabido referir que, em Contramina – termo equivalente a mina usado por empréstimo do castelhano na raia alentejana de Portalegre, concelho natal de Ruy Ventura – assistimos à invenção de um idioma, do espírito, das coisas naturais, se quisermos, de onde, porém, não se ausenta o grande espírito criador que modula ao mesmo tempo cada um desses elementos, e dessas palavras, fazendo-as nascer da junção dos sons tal como os minérios que se extraem da mina são resultado químico de vários fenómenos:
sangra-se o poema. não sobrevive se a água não circula pelas veias. setenta por cento do poema é apenas água (salgada), sal da terra. a mina sustenta todas as formas de vida que povoam e elevam a existência. haverá células mortas (o ferro evita a anemia, mas não impede a secura e o apodrecimento das palavras). o corpo permanece. com sangue, sem água, não passará no entanto de um cadáver – múmia conservada como pedra numa redoma de vidro. (p. 55-56).
Vale a pena destacar, ainda, que se Contramina é sinónimo de idioma tem a ligá-lo à imagem de onde provém uma espécie de silêncio inicial no qual tudo o que é visível e invisível conhece a sua origem e o seu fim, fazendo lembrar nisto muito da filosofia trágica patente na obra de Raul Brandão, sobretudo em títulos como Húmus ou El-Rei Junot.
(in Navegações, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 105-106, jan.-jun. 2014: 105 - 106).
Disponível aqui.
A CONVERSÃO DE BOCAGE
Ruy Ventura
Manuel
Maria Barbosa du Bocage faz parte do grupo desditoso de poetas cuja biografia
vem secundarizando a sua produção poética. Por bons e maus motivos, a sua vida
tormentosa e picaresca instituiu-se como eixo do interesse público, menorizando
as razões mais altas da sua grandeza, que residem em quanto escreveu. É certo
que a sua obra nunca teria crescido nos moldes conhecidos se não houvesse nela
uma constante projecção do eu. Por isso mesmo, há que ter em conta o quanto existe
de contaminação subjectiva nos seus poemas, invalidando, por si só, quaisquer
estudos que pretendam catar entre os versos apenas uma representação histórica
de um percurso atribulado. Por mais que usemos uma joeira, nunca saberemos porém
até que ponto fingiu ou foi sincero na sua poesia. Nem isso interessa muito, se
a aquilatarmos enquanto obra de arte e não como mero documento histórico de uma
época. Só enquanto objecto artístico, devidamente salvaguardado (como diria
Heidegger) nas múltiplas leituras oferecidas pela sua abertura irradiante, a
sua produção vale a pena – porque só desse modo é nossa contemporânea. Ainda
assim, não poderemos aplicar ao poeta setubalense os princípios hermenêuticos,
hoje em parte ultrapassados, decorrentes da “morte do autor”. Se a biografia
não explica nem deve explicar o que deve ser visto apenas como arte, não deixa de
se instituir como auxiliar no percurso legente. Deve existir, contudo, uma
grande cautela, para que seja vencida a tentação que nos leva, com frequência,
a uma cómoda fixação no sentido literal dos poemas, esquecendo que além dele há
muita alegoria, moralidade e anagogia.
Ao
lermos, por exemplo, aquele que é talvez o seu soneto mais conhecido (“Já
Bocage não sou!...”[1]),
é difícil não nos lembrarmos dos paralelos que poderemos estabelecer entre a
metanóia aí apresentada e aquela que modificou a vida de nomes tão importantes
como Guerra Junqueiro ou Gomes Leal (para não sairmos do território nacional). São
percursos incómodos aqueles que emergem. O mesmo Junqueiro que, na nota
posfacial d’ Os Simples (1892)[2], declara que “redobra em
mim […] a aversão e a hostilidade à igreja católica, grosseira fórmula
materialista do transcendente e divino espírito de Jesus”, assevera em data
próxima de 1918 que tinha sido “muito injusto com a Igreja”, sublinhando que uma
grande parte do que escrevera tinha nascido “d’ um racionalismo desvairador, um
racionalismo de ignorancia, estreito e superficial”. Por isso afirma: “Ha na
grandiosa historia do catolicismo paginas de horror, mas a Igreja com os
Evangelhos cristianizou e salvou o mundo. No catolicismo existem absurdos, mas
no amago da sua doutrina resplandecem verdades fundamentaes, verdades eternas,
as verdades de Deus […]”[3].
Percebe-se,
nas palavras do autor d’ A Velhice do
Padre Eterno, que a sua hostilidade nada tinha que ver com qualquer espécie
de anti-teísmo, ateísmo ou sequer agnosticismo. Também não se tratava de um anti-catolicismo
irracional, mas tão só de um exaltado repúdio de formas religiosas pouco
evangélicas, praticadas por ministros tornados funcionários públicos. Auxiliar
de um Estado despótico, tomada de assalto por um fanatismo que se entrançara
com os interesses argentários e fundiários da nobreza e com a cegueira dos
ignorantes, essa Igreja chegara ao século XVIII em formas mortas e vazias que
um Santo António de Lisboa não se importaria de atacar com o seu martelo[4]. Bocage e Junqueiro, tal
como Gomes Leal, usaram os seus instrumentos verbais e artísticos no mesmo
sentido, fustigando a hipocrisia, a simonia e também a apostasia. Chamar-lhes
“anti-clericais” parece assim exagerado e injusto, pois o que estava em causa
era a necessidade de ver as “verdades eternas” livres da submissão a ditames e
práticas que nada tinham de cristãos, não a rejeição primária do segundo estado[5].
Chegados
a uma idade madura, Bocage e Junqueiro terão no entanto percebido o quão longe
tinham ido os meios por si usados na sua (legítima) exaltação reformista e,
sobretudo, as consequências que tal gerara em sujeitos em crise. “Incapaz de
assistir num só terreno, / Mais propenso ao furor do que à ternura”, o sujeito
poético de Manuel Maria entende que a imitação da sátira e da licença dos seus
predecessores (“Outro Aretino fui”) contribuíra não para o restauro, mas para a
ruína e demolição, confundindo o usufruto da liberdade com as suas formas
degradadas. Reconhece a “vã figura” representada por seu “louco intento”,
loucura que residiu, sobretudo, num afastamento da luz da Razão, movido pelo
“tropel das paixões”, pela cegueira dos “Prazeres, sócios [s]eus e [s]eus
tiranos”. Não se trata, todavia, apenas de um confronto com a ignomínia
patética do passado de uma “alma, que sedenta em si não coube”, mergulhada no
“abismo […] dos desenganos”. Além dos veios biográficos que, de facto, contêm,
os poemas de Bocage oferecem sobre esta matéria algo que transcende o eu
espelhado nos versos, propondo uma via purgativa, que conduzirá à justa medida
no pensamento e na acção.
Desejando
pôr em prática uma ars moriendi,
Bocage inicia a sua metanóia pela confissão (“Eu aos céus ultrajei” – “A
santidade / Manchei!”) e pelo arrependimento (“Eu me arrependo”). A conversão
passa por uma revisão estética, que assume a crítica do deleite que se fica
apenas pela forma do poema, pela sua composição agradável aos sentidos e ao
gosto. Esse “som fantástico” é agora para o sujeito apenas sonoridade vazia,
diletante, mergulhada numa fantasia que não chegou ainda à imaginação (essa sim
divina, como defendem vários autores). O perigo maior está no entanto, segundo
afirma, naqueles que transfiguram essa irrealidade em realidade, crendo nela.
Esses, crédulos, e apenas esses, são “gente impia” que deve “Rasga[r] [s]eus
versos”, pois são foco de uma transitoriedade que aparenta ser eterna, quando
na melhor das hipóteses é apenas longeva.
Usando
termos e conceitos desenvolvidos por Martin Buber[6], permito-me afirmar que Bocage
chega à maturidade poética, filosófica e religiosa, ao perceber que a centração
no Eu conduz à esterilidade narcísica e especular, pois transforma o mundo e os
outros num Isso, ou seja, em meros objectos. Só a percepção do Tu divino (como
elemento com quem se deve estabelecer uma relação dinâmica e indissolúvel)
torna possível o nascimento da dignidade do Outro. Ao afirmar “Já Bocage não
sou”, assinala a quem saiba lê-lo uma mudança de paradigma existencial e
vivencial que tem como corolário a crença “na eternidade”. O Eu dominante e
autotélico apaga-se para se transformar em Eu-Tu dialogante. Assim se
compreende o carácter luminoso e redentor atribuído à dor. Essa conversão (ou
metanóia) só pôde ocorrer porque, antes, perante “o triste abatimento / Em que
[o] faz jazer [sua] desgraça”, soube “fech[ar] os olhos, adorando / Os castigos
do Céu como favores.”
[1]
Os poemas que vão citados constam da antologia Bocage – Sonetos, organizada por Vitorino Nemésio para a Livraria
Clássica Editora, em 1978 (6ª edição).
[2]
Guerra Junqueiro (1972) – Obras […]
(Poesia). Porto, Lello & Irmão Editores: 917.
[3]
Guerra Junqueiro (1921) – Prosas
Dispersas. Porto, Livraria Chardron: 13.
[4]
Santo António foi chamado pelos seus contemporâneos “o martelo dos hereges”.
[5]
Estas considerações vão ao encontro de outro autor que foi no mesmo sentido:
Raul Brandão, sobretudo n’ O Padre.
[6]
Vd. Martin Buber ([2014]) – Eu e Tu.
Prior Velho, Paulinas Editora.
Publicado em:
http://www.snpcultura.org/a_conversao_de_bocage.html
(16/11/2016)
APRESENTAÇÃO DO LIVRO
“A VIDE E O SEU CASTELO”, DE RUY VENTURA
"A Vide e o seu Castelo" de Ruy Ventura foi apresentado no passado sábado, dia 24 de Setembro, no Salão Nobre dos Paços do Concelho. O livro aborda a toponímia, história e heráldica de Castelo de Vide, que inclui também referências a Marvão e à Ammaia. O lançamento é da responsabilidade do Grupo de Amigos de Castelo de Vide e contou com o apoio das Câmaras de Castelo de Vide e Marvão, bem como das Juntas de Freguesia.
A iniciativa esteve integrada nas Jornadas Europeias do Património, subordinadas ao tema Comunidades e Culturas, que decorreu entre os dias 23 e 25 deste mês. As Jornadas tiveram como objetivo envolver as comunidades na valorização da cultura.
O autor do livro é natural de Portalegre, tem 43 anos e desde a década de 90 que se dedica à atividade literária e investigação nas áreas de património imaterial e material.
DE UM ANÓNIMO
SOBRE "INSTRUMENTOS DE SOPRO"
Son muchos los lectores de Raya de Papel que nos han pedido que ampliemos nuestras propuestas de lectura a libros originales en lengua portuguesa de los que no exista traducción española. Uno muy recomendable es este 'Instrumentos de sopro', de Ruy Ventura, publicado por Edições Sempre-em-Pé, y que supone la séptima entrega poética de este autor de Portalegre. En él explora buena parte del terreno simbólico que sostiene su obra, una de las más personales de la reciente poesía lusa. La cita de Josep M. Rodríguez que le sirve de prólogo («Vivir es abrazar oscuridades: / de lo que no sabemos a lo que no sabemos, / desde una lejanía a otra lejanía. / Todo es inaccesible») ofrece ya claros indicios del territorio que habita la poesía de Ruy Ventura, que se convierte en indagación profunda y serena sobre la trascendencia de la existencia y sus huellas en la vida cotidiana y en el espacio, convertido en territorio, que habitamos. Es la suya una poesía profundamente simbólica, que concede especial importancia a lo sustantivo, a la esencia de esa búsqueda permanente. Y lo hace desde una poética que bebe de diferentes tradiciones y en la que cobran singular importancia sus contactos, como buen hombre de la Raya, con algunos escritores extremeños. La proximidad del poeta con su tierra es otra de las constantes de su poesía, que nace con vocación universal y con las mismas preocupaciones con que sus antepasados cultivaban los campos y veían correr los ríos del Alto Alentejo. Poesía, en suma, reflexiva, meditativa, afilada a veces como un cuchillo.
No jornal espanhol Hoy (Badajoz), em 3/1/2011:
http://www.hoy.es/v/20110103/sociedad/h2aula-iberica-h2ruy-ventura-20110103.html
(consulta a 1/6/2016)
O poeta-cantor presencista Edmundo Bettencourt (n. 1899; m. 1973) foi ontem homenageado, na Casa da Escrita da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), no âmbito do ciclo “Coimbra (t)em Poesia”, que contou com a participação do poeta e professor Ruy Ventura e com música do grupo Fado ao Centro. A obra de Edmundo Bettencourt foi resumida por Ruy Ventura, que a apelidou de “incómoda”, justificando assim o porquê de não ser tão conhecida como deveria.
“A poesia de Edmundo Bettencourt é ainda hoje incómoda, talvez por isso continue em parte encoberta”, começou por afirmar Ruy Ventura, depois de agradecer o convite da autarquia para falar do autor, um poeta que muito aprecia, mas que, no seu entender, nunca atingiu a notoriedade que lhe é devida. Trata-se de um autor que “diz muito a esta cidade e deveria dizer muito ao nosso país”, acrescentou Ruy Ventura.
A obra de Edmundo Bettencourt, referiu Ruy Ventura, é “promovida aqui e ali, quase sempre de passagem nos estudos dedicados à segunda fase do modernismo português” e “não deixou ainda esse lugar apátrida e subterrâneo em que circulam tantas obras de primeira grandeza, que o sistema não quer, não sabe ou não pode promover como seria de justiça”. “Lida e relida, a poesia de Edmundo Bettencourt faz parte daquelas que incomodam, desconfortam e surpreendem, por isso me interessa”, acrescentou.
O curador da casa da Escrita, António Vilhena, agradeceu a presença das várias pessoas que assistiram à sessão e elogiou o facto de a mesma ter sido tão participativa. O curador aproveitou ainda para ler um texto que o atual presidente da CMC, Manuel Machado, escreveu sobre Edmundo Bettencourt durante o seu primeiro mandato na autarquia. Também presente na sessão, João Rasteiro declamou alguns poemas do homenageado e, referindo-se à intervenção de Ruy Ventura, afirmou que “é sempre bom quando temos um poeta a falar de outro poeta”.
O grupo “Fado ao Centro” também prestou homenagem a Edmundo Bettencourt, ao interpretar três temas baseados na sua poesia: “Fado dos olhos claros”, “Inquietação” e “Não te deites coração”.
Edmundo de Bettencourt, como o próprio assinava, marcou de forma profunda a primeira metade do século XX com a sua arte peculiar. Uma arte que Herberto Hélder, de forma apaixonada, inscreveu «nas zonas mais puras». Chegado a Coimbra em 1922, juntamente com Artur Paredes, revolucionou o fado da Lusa Atenas. Com outras grandes vozes, como António Menano, Bettencourt cristalizou uma nova linha na interpretação da canção coimbrã, impregnando-a de «um lirismo mais forte», nas palavras de Manuel Alegre.
O poeta esteve intimamente ligado a um importante movimento literário surgido em Coimbra em meados dos anos 20 do século passado, consubstanciado na revista “Presença”, da qual foi elemento fundador. Nunca se alheou das tertúlias e da discussão, construindo uma reputação de excelente conversador e observador atento a novas correntes. Em 1963, a sua produção poética foi reunida no volume “Poemas de Edmundo de Bettencourt”.
(Fonte: http://www.cm-coimbra.pt/index.php/areas-de-intervencao/cultura/rota-das-tabernas/itemlist/)
[A REVISTA "DEVIR" EM SALAMANCA]
Presentados por Luis Arturo Guichard, profesor de la Facultad de Filología de la Universidad de Salamanca y miembro del consejo asesor de dicha revista, los directores de Nuno Matos y Ruy Ventura expusieron las directrices de ‘Devir. Revista Ibero-Americana de Cultura’, que publica originales en portugués, español y gallego, tanto de poesía, ensayo y narrativa breve. También tiene secciones dedicadas a las artes visuales. La publicación, que apuesta por el futuro, aparece bajo el sello de Edições Licorne, afincada en Évora. Con una periodicidad semestral, hasta ahora han salido dos números y está cerrado el número 3, donde aparecerán dos poemas inéditos de Alfredo Pérez Alencart, profesor de la Usal y colaborador de SALAMANCArtv AL DÍA. En el último número aparecido, el número 2, se acogen poemas de António Telmo, Casé Lontra Marques, Edmar Guimarães, Fernando Guimarães, Filipa Barata, Iacyr Anderson Freitas, José Luis Calvo, José Luís Peixoto, Juan Alcántara, Luís Leal, Márcio-André, Rita Taborda Duarte, Ruy Ventura y Virna Teixeira. También ensayos y crónicas de António Carlos Carvalho, Antonio Sáez Delgado, Bianka de Andrade Silva, José do Carmo Francisco, Levi Condinho, Nuno Matos Duarte, Pedro Martins y Risoleta C. Pinto Pedro. Es destacable un dossier dedicado a uno de los poetas cubanos más importantes, José Kozer, con tres poemas inéditos y un ensayo de Luis Arturo Guichard. También resalta una antología del notable poeta lusitano, Pedro Tamen, seleccionada por Ruy Ventura; y reproducciones de una obra de José Luís Neto, destacado artista visual portugués. El número tuvo el patrocinio de la Câmara Municipal de Ponte de Sor. En el número 1 de la revista aparecieron poemas y ensayos de Álvaro Valverde, Amadeu Baptista, António Cândido Franco, António Carlos Cortez, C. Ronald, Fernando Aguiar, Francisco dos Santos, João Rasteiro, Jorge Melícias, Jorge Tamargo, José Emílio-Nelson, José Félix Duque, José Maria Cumbreno, Luís Arturo Guichard. Manuel Silva-Terra. Miguel Real, Nuno Matos Duarte, Pedro Martins, Rui Almeida, Ruy Ventura, Tiago Gomes y Joana Koehler, Victor Sosa y, finalmente, Wilmar Silva de Andrade. Hay una antología del catalán Carles Riba («Elegias de Bierville») con traducción de Marta López Vilar. Completan el número ocho fotografías de David Infante. Este primer número tuvo el patrocinio de la Câmara Municipal de Aljezur.
Fonte:
http://salamancartvaldia.es/not/108703/llega-a-salamanca-lsquo-devir-rsquo-revista-iberoamericana-de-cultura-editada-en-portugal/
Fonte:
http://salamancartvaldia.es/not/108703/llega-a-salamanca-lsquo-devir-rsquo-revista-iberoamericana-de-cultura-editada-en-portugal/
Luis Arturo Guichard, Nuno Matos Duarte e Ruy Ventura (Faculdade de Filología de Salamanca, 1/3/2016) |
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