O poeta-cantor presencista Edmundo Bettencourt (n. 1899; m. 1973) foi ontem homenageado, na Casa da Escrita da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), no âmbito do ciclo “Coimbra (t)em Poesia”, que contou com a participação do poeta e professor Ruy Ventura e com música do grupo Fado ao Centro. A obra de Edmundo Bettencourt foi resumida por Ruy Ventura, que a apelidou de “incómoda”, justificando assim o porquê de não ser tão conhecida como deveria.
“A poesia de Edmundo Bettencourt é ainda hoje incómoda, talvez por isso continue em parte encoberta”, começou por afirmar Ruy Ventura, depois de agradecer o convite da autarquia para falar do autor, um poeta que muito aprecia, mas que, no seu entender, nunca atingiu a notoriedade que lhe é devida. Trata-se de um autor que “diz muito a esta cidade e deveria dizer muito ao nosso país”, acrescentou Ruy Ventura.
A obra de Edmundo Bettencourt, referiu Ruy Ventura, é “promovida aqui e ali, quase sempre de passagem nos estudos dedicados à segunda fase do modernismo português” e “não deixou ainda esse lugar apátrida e subterrâneo em que circulam tantas obras de primeira grandeza, que o sistema não quer, não sabe ou não pode promover como seria de justiça”. “Lida e relida, a poesia de Edmundo Bettencourt faz parte daquelas que incomodam, desconfortam e surpreendem, por isso me interessa”, acrescentou.
O curador da casa da Escrita, António Vilhena, agradeceu a presença das várias pessoas que assistiram à sessão e elogiou o facto de a mesma ter sido tão participativa. O curador aproveitou ainda para ler um texto que o atual presidente da CMC, Manuel Machado, escreveu sobre Edmundo Bettencourt durante o seu primeiro mandato na autarquia. Também presente na sessão, João Rasteiro declamou alguns poemas do homenageado e, referindo-se à intervenção de Ruy Ventura, afirmou que “é sempre bom quando temos um poeta a falar de outro poeta”.
O grupo “Fado ao Centro” também prestou homenagem a Edmundo Bettencourt, ao interpretar três temas baseados na sua poesia: “Fado dos olhos claros”, “Inquietação” e “Não te deites coração”.
Edmundo de Bettencourt, como o próprio assinava, marcou de forma profunda a primeira metade do século XX com a sua arte peculiar. Uma arte que Herberto Hélder, de forma apaixonada, inscreveu «nas zonas mais puras». Chegado a Coimbra em 1922, juntamente com Artur Paredes, revolucionou o fado da Lusa Atenas. Com outras grandes vozes, como António Menano, Bettencourt cristalizou uma nova linha na interpretação da canção coimbrã, impregnando-a de «um lirismo mais forte», nas palavras de Manuel Alegre.
O poeta esteve intimamente ligado a um importante movimento literário surgido em Coimbra em meados dos anos 20 do século passado, consubstanciado na revista “Presença”, da qual foi elemento fundador. Nunca se alheou das tertúlias e da discussão, construindo uma reputação de excelente conversador e observador atento a novas correntes. Em 1963, a sua produção poética foi reunida no volume “Poemas de Edmundo de Bettencourt”.
(Fonte: http://www.cm-coimbra.pt/index.php/areas-de-intervencao/cultura/rota-das-tabernas/itemlist/)