José do Carmo Francisco


«Instrumentos de Sopro»
de Ruy Ventura




Ruy Ventura (n. 1973) estreou-se em 2000 com «Arquitectura do Silêncio» (Prémio Revelação da APE) e tem neste recente «Instrumentos de Sopro» o seu sétimo título como poeta. Não se trata aqui de instrumentos musicais (trompete, trompa, cornetim, trombone, saxofone, órgão, acordeão ou harmónica) mas de memórias e reflexões sopradas ao poeta por monumentos, esculturas, pinturas, moedas, estelas funerárias ou ruínas. Um exemplo: na rua de São Julião em Lisboa uma igreja foi transformada em garagem de um Banco. No altar surgiu o deus Mamon em vez do Rei dos Reis e esta é a resposta do poema:



«a vizinhança não poderia consentir tal afronta / (apesar do incêndio, a vida ressuscitara / entre velas, mármores e frontais) / era preciso consumir de novo / a brancura do corpo / deixando apenas os ossos / e uma pele brilhante / mas ressequida».

«a incandescência das vozes / foi devorada pela incandescência dos motores. no trono / Mamon reina agora / sobre a falsidade da fachada».

«noutro lado – taberna, quarto / de cama, teatro ou sala de jantar. / mudaria o diálogo / mas não mudaria o povoamento».

«aqui, Mamon escarra nas paredes. / poderia ser de outro modo? / o dinheiro suja o olhar – e sem mistério».


(Edições Sempre em Pé, Capa: Nuno de Matos Duarte, Prefácio: C. Ronald)

Fonte: http://aspirinab.com/jose-do-carmo-francisco/um-livro-por-semana-181/#comments (a 9 de Maio de 2010).

1 comentário:

JDACT disse...

Excelente trabalho. Obrigado.
Com amizade.
JDACT
Nota: Embora conhecendo o nome e a obra, os nossos amigos JC e a SB foram muito afáveis.
Um abraço.
JDACT