presença




a luz desenha no espaço
duas colunas de sombra.
a memória coloca no olhar
duas colunas de fogo
que as asas devolveram
à poeira das origens.
sangue e voo
sobrepõem-se à imagem
obstruindo a presença da luz
na tinta e no coração.
traços e cores
dispensam, no entanto, a linha
do horizonte. na ascensão da tela
restituem, sem matéria,
a presença do edifício –
sem vidro, sem aço
com carne, sangue e memória
na inscrição do mundo.

[WTC, de Jorge Martins]

(in Instrumentos de Sopro, edições Sempre-em-Pé, 2010)


 

Jorge Martins, sem título, 1975/76, acrílico, 90x126.

1 comentário:

jorge vicente disse...

um poema absolutamente fantástico, caro ruy!

abraços
jorge vicente