DA ARRÁBIDA É DEUS
Setúbal, 20 de ago 2013 (Ecclesia)
O verdadeiro poeta da Serra da Arrábida “é Deus” considera o professor e escritor Ruy Ventura referindo-se ao local em Setúbal, que inspirou obras portuguesas.
Para o docente “esta serra é por si só um poema” e “os autores que têm escrito sobre ela apenas a têm interpretado e colhido a sacralidade que envolve todo o espaço”, afirma em declarações à Ecclesia, notando que a Serra da Arrábida “não se oferece logo na primeira visita” mas necessita de “constante revisitação”.
Ruy Ventura recorda Frei Agostinho da Cruz e Sebastião da Gama como dois poetas que usaram como inspiração o misticismo da Arrábida: a poesia de Frei Agostinho da Cruz “artisticamente é muito mais construída”, enquanto que a de Sebastião da Gama “é como se fosse um diamante por lapidar.”
O poeta Ruy Ventura não deixa de notar que a poesia de Sebastião da Gama “precisa urgentemente de uma edição completa” revelando a existência de “dezenas de poemas inéditos”.
“A saudade é a síntese entre a esperança e a memória” é a frase declamada por Ruy Ventura para explicar a conotação de “altar dos poetas” que atribui à Serra da Arrábida, tendo em conta essa saudade que é “a memória do passado e a esperança num futuro sempre mais elevado”.
O professor Ruy Ventura afirma que a obra do Frei Agostinho da Cruz sofreu uma “mudança”, originalmente de uma “produção profana” para se tornar num poeta “profundamente religioso”.
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=96672
João Ferreira
Brasília,10 de setembro de 2013
COMENTÁRIO DE UM LEITOR:
Vou pedir ao Ruy Ventura que me permita um comentário de simpatia à sua
inspirada frase de que “O verdadeiro poeta da Arrábida é Deus”. Como
acontece com Assis, Capri, Corcovado e outros raros espaços do orbe, a
Arrábida é um topos especial. Um lugar que é muito mais que um espaço
físico. É comum o visitante sentir ali uma coceirinha mística que teria
vontade de exprimir da maneira mais própria. Vontade que na maior parte
dos casos fica no balbucio ou no silêncio místico de contemplação, na
admiração e no espanto. Vontade que termina por se reduzir a uma
impressão indizível, ou a um estranhamento íntimo que não encontra na
palavra uma sintaxe racional que exprima totalmente a impressão
registrada na alma. Poetas de renome como Frei Agostinho da Cruz,
António Manuel Couto Viana, Sebastião da Gama e outros cantaram a
mística serra. Através da linguagem escrita deixaram impressões,
canções, elegias, exclamações, saudades. Mas uma coisa é a retórica
estilística com finitos giros oferecidos pela língua literária e comum e
outra coisa é a realidade em si da Arrábida e a força íntima que dela
se desprende. Neste caso, declarada a limitação da linguística verbal,
resta pedir a intervenção da semiótica para que com base em sinais e
indícios ela própria construa outro tipo de linguagem que melhor exprima
a sensação ou a impressão mística com que a Arrábida nos enche o
coração. Dentro desta perspectiva parece ser inteiramente pertinente
lembrar e repetir a feliz frase de Ruy Ventura quando diz que “O
verdadeiro poeta da Arrábida pe Deus”…Explicando melhor: o espectáculo
da natureza e o encantamento da Arrábida é de tal ordem que não há poeta
que tenha uma linguagem própria e capaz para exprimir as grandezas
transcendentes da Arrábida. Esse espectáculo, convertido em linguagem,
mostra que ali só há um poeta com dicção própria: seu Criador, Deus.
Quando o franciscano S. Boaventura escreveu o ” Itinerarium mentis in
Deum” (Itinerário da mente para Deus), em pleno século XIII, estava nos
dizendo que o mundo é não apenas um espelho de Deus mas também um
caminho cheio de sinais para o reconhecer como seu Autor. A mesma tese
que Ruy Ventura nos está lembrando em bom português, ao exaltar a
Arrábida como uma das maiores belezas de Portugal, ao dizer que:”O
verdadeiro poeta da Arrábida é Deus.”
João Ferreira
Brasília,10 de setembro de 2013
http://circuloantoniotelmo.wordpress.com/2013/09/10/ruy-ventura-na-agencia-ecclesia/
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