Leitura: “Sob os braços da azinheira – Leituras de
Fátima”
Inspirando-se nas «diferentes abordagens sobre a narrativa de Fátima», Ruy
Ventura apresenta neste livro, recentemente lançado, «as múltiplas áreas do
saber desde a Literatura (Poesia) à Teologia, desde a História à História da
Arte, desde a Filosofia à Antropologia».
Ver as aparições da Virgem Maria na Cova da Iria e todas as implicações que
daí decorreram para a sociedade e para a Igreja «como um instrumento bélico,
arremessado por algum “catolicismo nacionalista […] contra os histerismos e os
rancores anticlericais”, como “uma tábua de salvação para a Igreja portuguesa”
ou, nos antípodas, como “entretenimento religioso para a turbamulta” só nos
pode causar desgosto e irritação», começa por acentuar o autor no epílogo.
O poeta e investigador defende que Fátima convoca «para tudo quanto há de
mais essencial na doutrina cristã e, por isso, consegue reinventar-se em cada
momento, escapando a todas as manipulações e a todos os ataques de que tem sido
alvo. Não se trata da relíquia de um passado arcaico nem sequer de um
epifenómeno sujeito a uma mais ou menos atenta observação num vasto gabinete de
curiosidades. Resiste mesmo a ser uma mera cadeia de acontecimentos que a
máquina contemporânea vai centrifugando e acaba por deitar fora».
«Fátima pode ser encontrada como esse deserto em que podemos confrontar-nos
com o vazio, com o silêncio e com a largueza de um espaço aberto onde nos vemos
a braços com a nossa insuficiência, com a nossa pobreza e com a nossa miséria.
No centro dela – enquanto acontecimento, fenómeno e devir –, temos a
Esperança», assinala.
Prefaciado por Marco Daniel Duarte, diretor do Museu do Santuário de Fátima
e do seu Departamento de Estudos, o volume comenta a relação de vários
escritores e poetas portugueses com a Cova da Iria: Brito Camacho, José
Saramago, Aarão de Lacerda, Miguel Torga, José Luís Peixoto, Sebastião da Gama,
Ribeiro Couto, Vitorino Nemésio, José Tolentino Mendonça e Amadeu Baptista
«Não custa imaginar, a curta distância, sob os braços da azinheira grande,
o gérmen da multidão que a partir desse final de primavera de 1917 não mais
pararia de aumentar. Com este livro, estou junto deles. Crendo, apesar de não
verem, ao sentirem junto de si a orla do manto que protege e salva, muitos
pensaram decerto como um poeta português do nosso tempo.»
Com efeito, prossegue o autor a concluir o epílogo, Valter Hugo Mãe,
assaltado pelas dúvidas, angustiado, soube ainda assim entender o terço como o
“sangue do verbo”. Acreditando que “amar é servir para outro mundo”, manifestou
a sua confiança: “quem deixou sobre o coração/ um feixe de luz/ cega nunca”».
“No coração da árvore [a árvore como imagem de Deus humanado]”, “Dos
evangelhos a uma espiritualidade cordial [devoção ao Imaculado Coração de
Maria]” e “Uma fresta sobre a multidão [Paul Claudel e o milagre do Sol]”
constituem os temas do segundo capítulo, antes do poema dramático “Outro
caminho”.
A obra encerra com “O caminho das imagens”, 20 imagens icónicas de Fátima,
comentadas.
Rui Jorge Martins
Título: Sob os braços da
azinheira
Autor: Ruy Ventura
Editora: Santuário de Fátima
Páginas: 246
Preço: 16,00 €
ISBN: 978-989-8418-16-6
Autor: Ruy Ventura
Editora: Santuário de Fátima
Páginas: 246
Preço: 16,00 €
ISBN: 978-989-8418-16-6
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